28/03/2008

A perfeita salvação significa fé no crisol de Deus

A humanidade sempre buscou, através da religião, se aproximar de Deus pelos seus atos de justiça, pela penitência e por sacrifícios. Contudo, como a própria Palavra de Deus afirma, toda a ação do homem é ineficaz porque o pecado impede a humanidade de se aproximar de Deus. Ora, Sua santidade torna impossível que o ser humano caído possa conhecê-lo; o Eterno é inalcançável mesmo para aqueles que, na ótica humana, possuem uma moral impecável... Éntretanto, há uma força que impele o homem em desejar ardentemente agradar a Deus e acreditar que através de suas obras poderia alcançar a Sua aprovação. E, o pior de tudo, é perceber que esse tipo de pensamento não se limita ao mundo incrédulo, já que, a princípio, a Igreja primitiva já era ameaçada por essa mentalidade.


Ó INSENSATOS gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne? Será em vão que tenhais padecido tanto? Se é que isso também foi em vão. Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, fá-lo pelas obras da lei, ou pela pregação da fé? (Gl 3:1-5)

O apóstolo Paulo constatou o perigo do "ranço" da lei judaica e interpôs contra toda forma de evangelho que fosse contrário a salvação pela fé na cruz de Cristo. Em certo momento, inclusíve, repreendeu Pedro, por seu preconceito com os gentios e perverso respeito humano perante os judaizantes. Paulo estava consciente que a salvação é um dom de Deus, originada pela graça mediante o sacrifício de Jesus (Rm 5:15-17; 6:23). Ele sabia que obra da cruz era mais do que suficiente para trazer a salvação aos perdidos.


É interessante observar que este problema não se limitou a Igreja da época dos apóstolos, mas até hoje vivemos situação semelhante: as indulgências, os dogmas e leis da Igreja Católica apóstata, como também, de muitas congregações que se denominam "evangélicas" utilizando-se de subterfúgios para manter os fiéis como seus membros. Seja através das proibições de uso ou comportamento (de comer, beber, vestir) seja pela imposição de maneiras para se achegar a Deus (rezar dez ave-marias, fazer o jejum ou aquela corrente de oração), para receber o perdão de pecados ou bênção divina, tudo isso é considerado como nada, sem valor algum:

Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne. (Cl 2:20-23)


Se a Palavra de Deus declara que a Salvação é um dom gratuito de Deus, como posso afirmar que a perfeita salvação vem pela provação e confirmação de nossa fé? O cristão realmente precisa fazer alguma coisa para receber a salvação? Sim, há uma condição para o homem receber a salvação: obviamente ele precisa crer, ter fé! Mas antes de explicar o que significa essa condição, em primeiro lugar é necessário definir o que é salvação.


Nas Escrituras, a palavra salvação (soteria, no grego) possui um diversidade de significados: "redenção", "resgate", "libertação", "preservação", "conservação", "cura". A Salvação, em toda sua plenitude, é um conceito amplo, que compreende uma herança incorruptível, sem mácula, sem mancha, eterna, guardada, segura, reservada nos céus (1 Pe 1:4) para nós, crentes:

  • a reconciliação de Deus com o homem, mediante a morte de Cristo, tornando-se este, agora, amigo de Deus e estando salvo das consequências de Sua ira pelo pecado (Rm 5:9-11; Ef 2:11-16; Cl 1:20,22)

  • a purificação, a remissão dos pecados, tornando-se o homem justo perante Deus (Hb 1:3; 2:17)

  • a libertação do reino das trevas e do medo da morte, o homem não mais é escravo do pecado e de Satanás (Cl 1:13; Hb 2:14-15; 1Co 15:54-57)

  • O privilégio ao acesso a Deus para oferecer a Ele um culto aceitável (Hb 4:16; 10:19-22; 12:28-29; 13:15-16)

  • Adoção como Filhos de Deus e entrada no reino de Sua Glória (Hb 2:10-11)

  • A transformação de nosso ser à imagem e semelhança de Cristo Jesus, de glória em glória, incluindo não somente o homem espiritual, mas a promessa de renovação de nossa alma e ressurreição de nossos corpos mortais (1 Co 15:50-54; 2 Co 3:18)

  • A promessa de descanso, de novos céus e nova terra, em um mundo vindouro, Jerusalém, a cidade celestial (Hb 11:16)

Portanto, tendo ciência dessa herança em Cristo, há dois aspectos da salvação que devem ser analisados. Primeiro, a salvação não se limita ao espírito humano (o homem interior), mas engloba também a alma (emoções, mente, vontade) e o corpo físico. Enquanto este será ressucitado no dia da Glória do Senhor, aquela está sendo continuamente transformada pela Palavra de Deus e pelo poder de Seu Espírito Santo. Em segundo lugar, o processo salvífico é gradual, somente será consumada com a volta de Jesus. Embora algumas das promessas supracitadas não se concretizaram - como por exemplo, a transformação plena de nosso caráter à identidade de Cristo e o descanso na nova Jerusalém - temos a plena certeza que Deus é fiel para cumprí-la (Is 55:10-11; Nm 23:19), afinal ele está sempre zelando pela Sua Palavra!


Porque os homens certamente juram por alguém superior a eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda a contenda. Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento; para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta; a qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu, onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque. (Hb 6:16-20)


Conhecendo a esperança proposta em Cristo, crendo pela fé na consumação da salvação, assim como declarou o autor de Hebreus, "retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade" (Hb 12:28). Neste contexto, "reter" denota uma disposição mental em que o cristão tem a firme consciência da graça de Deus; ou seja, que não há nele mérito algum e que sua redenção está integralmente alicerçada em Jesus Cristo. Corroborando este pensamento, Paulo exorta Timóteo a conservar a fé e a boa consciência, evitando-se, assim, "naufragar" nela.


Ora, sabemos que fé é "a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem" (Hb 11:1). Destarte, a fé é uma certeza em nosso coração, uma convicção em nosso homem interior, que suplanta toda razão, todo entendimento, invadindo o domínio da alma, trazendo uma nova concepção mental. A fé é essencial em todos os momentos da vida cristã. Sem ela é impossível agradar a Deus (Hb 11:6), é o "oxigênio" do nascido de novo: através dela os crentes recebem a vida eterna (Jo 3:36), tornam-se justos (Gl 2:16) e por ela vivem (Gl 3:11). Logo, o mais alto grau de valor que o Eterno confere a fé revela a sua importância no plano divino da salvação da humanidade; a fé na gratuidade do sacrifício de Cristo é o fundamento do evangelho:


Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. (1 Co 3:9-11)

A combinada com o poder do Espírito de Deus possui um papel essencial na trajetória de vida do crente: preservá-lo, conservá-lo, guardá-lo para o dia da Salvação, o instante em que todo o propósito do Senhor para Seus filhos será confirmado. Como em uma reação química, ao consubstanciar estes dois elementos, forma-se o resultado que é o objeto da Salvação Perfeita: o novo homem transformado em todos os seus aspectos de existência (espírito, alma e corpo). Essa mistura, para Pedro, é apresentada como sendo a provação de nossa fé (1 Pe 1:5). Usando de metáfora, compara essa reação ao processo de refino do ouro, no qual quando temperado por fogo (o poder de Deus) purifica o metal, separando-o dos resíduos impuros. Sabe-se que esse beneficiamento é um processo lento, pois se o material for aquecido de uma só vez, o ouro puro irá se fundir aos outros elementos que compõem a liga original. Por conseguinte, o aumento da temperatura é gradual, é feita em etapas, de modo que as outras substâncias possam ser eliminadas restando somente a preciosidade do primeiro.

Assim, a fé é provada, refinada pelas chamas das circunstâncias, que o Senhor nos apresenta, pois como declara a Bíblia, "nosso Deus é fogo consumidor" (Hb 12:29). Por intermédio das aflições desse mundo que os filhos do Altissímo são disciplinados, para que, pela confirmação da fé, produza perseverança, experiência e esperança; isto é, paciência (longanimidade), fruto de justiça (Rm 5:3-4; Hb 12:7; Tg 5:11). Deste modo, assim como pelo fruto se conhece a árvore e sabe que está amadurecida (Mt 12:33; Mt 21:19), também pelo acrisolamento da fé, percebem-se os frutos do Espírito (Gl 5:22-23); quer dizer, mediante essa aprovação compreende-se que o cristão é maduro, experiente, perfeito e íntegro (Tg1:2-4).


E, se alguém sobre este fundamento [Jesus Cristo] levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será reveldada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo. Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós. (1Co 3:12-17)

Há um só fundamento, o qual é Jesus. Se alguém erguer base divergente deste será julgado pelo fogo consumidor. Porque assim como o fogo consome a palha, o feno e a madeira deixando somente o que é de valor (ouro, prata e pedras preciosas), no Dia do Senhor, todos os crentes serão julgados por suas obras, para receberem segundo o fizeram, o prêmio, o galardão, a coroa da glória. Mas que obras são essas? São obras de justiça, caridade, como muitos afirmam? Será que Paulo, inspirado pelo Santo Espírito, está dizendo que pela quantidade de pessoas convertidas ao evangelho, demônios expulsos, pelos enfermos curados serão medidas nossas obras?

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. (Mt 7:21-23)

Qual é a vontade de Deus? "Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6:40). A vontade de Deus é que o homem creia Nele, que CONHEÇAM a Ele, tendo a fé alicerçada na Rocha, em Cristo! Quando os discípulos perguntaram para Jesus quais seriam as obras que deveriam realizar para Deus, o que ele lhes respondeu? "Jesus lhes respondeu: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou" (Jo 6:29). Que CREAIS em Jesus Cristo! Enquanto os discípulos perguntaram no PLURAL, Jesus respondeu no SINGULAR! Porque? A resposta está em Jo 17:4, quando, antes de ser preso, crucificado e morto, Jesus ora ao Pai: "Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer". A obra da fé já foi completada por Cristo, foi dada gratuitamente por Deus, e, tendo consciência disso, todo cristão deve simplesmente CRER em Deus, que Ele é mais do que suficiente para nos aperfeiçoar no dia da revelação de Jesus Cristo, naquele momento em que a salvação será perfeita!

Ora, as obras de justiça, não são a causa da salvação, mas os resultados. Por isso Tiago afirma que a fé sem obras, sem prática é morta (Tg 2:14-17). Assim, uma vida de fé, transformada pela Palavra de Cristo, por meio do Espírito, gera frutos de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade (misericórdia), bondade, fé, mansidão, temperança. O uso dos dons no Corpo de Cristo, é consequência do amor que Deus derrama nos corações de Seus filhos, tornando-os capazes de manifestar Seu amor ao próximo, oferecendo suas vidas como remédio aos doentes e seus frutos como alimento aos famintos (Ez 47:12; Mc 12:17).

Então o que o crente tem que fazer para receber o galardão? Há três dicas que podem ser retiradas da primeira epístola de Pedro:

(...) e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá.

  1. PACIÊNCIA nas aflições submetendo-se à poderosa mão de Deus, humilhando-se diante Dele para que em tempo oportuno seja exaltado, depositando Nele toda carga de preocupação, confiando, descansando em Cristo;
  2. SOBRIEDADE que implica uma vida de santificação pela comunhão com o Pai: mantendo a fé edificada sob a sã doutrina (2Tm 4:5), não se deixando levar pelas paixões da carne mas se enchendo do Espírito (Ef 5:18) e cingindo (no sentido de coesão e integridade) o entendimento pela renovação da mente através da Palavra;
  3. VIGILÂNCIA no sentido de estar sempre atento às investidas de Satanás, resistindo-o (impondo uma força contrária a ele) na fé por meio do que dizem as Escrituras (Mt4:1-11).

E a consequência do nascido de novo agir com perseverança (paciência), sobriedade e vigilância, refinando a fé no crisol do Senhor (Pv 17:3), é que Deus (não o crente) irá, Ele mesmo, aperfeiçoar, confirmar, fortificar e fortalecer. Pois, o crescimento espiritual vem do Senhor; cabe ao cristão caminhar na Sua imensa e constante graça, perseverante, operando sua salvação com temor e tremor (reverência e dependência), confiando totalmente que a mesma será completada, estando ciente que o querer (o pensar, a vontade, a origem) e o realizar (o agir, o resultado, o fim) vem do Eterno (Fp 2:12-13)!

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