21/04/2008

Coragem!!!

"Na noite seguinte, o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma." (At 23:11)

Há uma grande perseguição ao cristianismo pelo mundo. Segundo reportagens veiculadas pelo Portas Abertas, por exemplo, na Somália, extremistas islâmicos infiltrados na polícia estão ameaçando e matando cristãos que não aceitam se converter ao islamismo. Quando a organização ICC (International Christian Concern - Interesse Cristão Internacional) perguntou ao representante desse país nos Estados Unidos, ele respondeu: "não existem cristãos na Somália"! Também, na Índia, radicais hindus distribuem folhetos listando crimes cristãos: “Tratar todo o mundo com carinho, mostrando compaixão ao desamparado, ajudar os pobres e convertê-los, educar os órfãos e os converter, promover liberdade para se casar, promover cuidados médicos gratuitos e ignorar o sistema de castas” . Nessa nação é comum pastores serem açoitados, reuniões de oração serem interrompidas, bíblias ou livros cristãos serem queimados, igrejas serem apedrejadas e incendiadas. Planos são arquitetados para atrair cristãos aos templos forçando-os à conversão; seja por falsas ofertas de trabalho, por ameaças de morte ou fazendo-os acreditar que estão indo à escritórios do governo.

De modo geral, em diversos países, pastores (e suas famílias) são coagidos, presos, torturados e mortos. Templos são destruídos. Igrejas são proibidas de realizar o culto, de prestar serviço à comunidade, enfim, de existir! Esses são alguns poucos exemplos da perseguição generalizada a que o povo de Deus vem sofrendo no mundo. Contudo, como Jesus mesmo afirmou em sua Palavra: "no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo" (Jo 16:33b). Ora, as próprias Escrituras declaram quem é o príncipe e governador desse mundo: Satanás, o adversário e acusador do Corpo de Cristo. Logo, não devemos estranhar "a ardente prova que vem sobre vós" (1 Pe 4:12), conforme Pedro diz em sua primeira epistola, não devemos achar estranho, como se fosse algo incomum, pois se a Igreja de Cristo é perseguida, o padecer é necessário para a manifestação da glória de Deus! É pela participação nas aflições de Jesus, que a Igreja de Cristo é aperfeiçoada e a fé é provada!

Como exemplo, analisando a Igreja primitiva, percebe-se que as manifestações do poder de Deus no meio do povo, mediante a vida dos apóstolos, era diretamente proporcional à intensidade do sofrimento pelo qual a mesma passava. É por isso que embora sejam difíceis os desafios dos missionários e evangelistas nos países intolerantes ao cristianismo, mais e mais o Senhor tem abençoado estas comunidades, trazendo miraculosamente a sobrevivência e o crescimento da Igreja. Certamente, porque, em situações de pressão, o crente não tenha outra opção do que correr para os braços do Pai Celestial!


Entretanto, o que vemos hoje em nossa nação? Crentes carnais, neófitos, desnutridos e superficiais espiritualmente; apáticos, egoístas, cuidando de seus próprios interesses ao invés de buscar a vontade do Pai. Por causa disso, ironicamente, a Igreja de Cristo, no Brasil, assim como se canta no hino nacional, permanece "deitada eternamente em berço esplêndido"... As congregações estão enfermas, sem visão, corrompidas, ricas em bens materiais mas pobres na manifestação da glória do Senhor. Esse é o perigoso tempo da apostasia da fé, vislumbrado por Paulo, o apóstolo:


SABE, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. Porque deste número são os que se introduzem pelas casas, e levam cativas mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências; Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade. E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés [na tradição Hebraica, dois magos de Faraó que tentaram imitar as pragas do Egito], assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante; porque a todos será manifesto o seu desvario, como também o foi o daqueles. (2 Tm 3:1-9)


Todavia, o juízo de Deus não tarda! Ele disciplina Seus Filhos conforme Sua Palavra, separando o joio do trigo, purificando-os mediante diversas provações; trazendo à luz toda a impiedade que contamina Sua Santa Igreja. A exemplo de Paulo, o verdadeiro crente, que compartilha dos sofrimentos de Cristo, por intermédio do acrisolamento da fé carrega as marcas da cruz em seu próprio corpo (Gl 6:17; 1 Pe 4:12-16). E para aquele que realmente é filho de Deus, servo do Senhor Jesus, o Mestre constantemente declara: "Tharsei!" Coragem! Tende bom ânimo! Seja ousado!


Após três viagens missionárias, pregando aos gentios, o apóstolo sentia-se impelido pelo Espírito a retornar a Jerusalém. Mesmo estando ciente dos riscos que esta decisão representava, ele sabia que era da vontade do Senhor que voltasse (At 21:10-14). Quando finalmente chegou à cidade, foi recebido por irmãos que, temendo a reação das autoridades judaicas diante da presença do apóstolo, o orientaram a cumprir o ritual de purificação no templo junto com quatro homens que haviam feito voto, a fim de demonstrar ao povo que o mesmo era cumpridor das tradições da Lei de Moisés. Para dar bom testemunho diante de seus conterrâneos, Paulo aceitando a proposta, dirigiu-se ao templo, permanecendo lá no prazo de sete dias estipulado pelas tradições.


Entretanto, no findar do período, alguns judeus, percebendo sua presença no templo, alvoroçaram a multidão afirmando falsamente que ele havia introduzido gentios no santuário. Estando em grande revolta, o povo o arrebatou do templo, espancando-o de tal modo que foi necessária a intervenção da guarda para cessar a turba. Como não se chegava em um consenso sobre qual crime ele havia cometido, o tribuno, a autoridade romana, ordenou que o levassem à fortaleza para averiguações. Ao subirem as escadas, o apóstolo pediu a palavra ao centurião para se defender, mas, essa ação só fez aumentar a celeuma, obrigando a guarda a carregá-lo tirando-o dali e levando-o à fortaleza, evitando assim que a multidão o matasse.


O tribuno, desejando conhecer a causa por que Paulo era acusado, mandou vir o conselho de anciões da cidade, o Sinédrio, apresentando aquele perante eles. O apóstolo, aproveitando a ocasião, baseando seu argumento na ressurreição dos mortos, levou a uma dissenção entre os fariseus (que eram a favor) e saduceus (que eram contrários). Conforme a discussão entre estas facções tornava-se mais acirrada, temendo pela vida de Paulo, o tribuno convocou a soldadesca para retirá-lo dali, escoltando-o de volta à fortaleza.


Durante a noite, Paulo encontrava-se encerrado em prisão, mui ferido, ansioso, solitário, oprimido, sem esperança... É neste contexto que Jesus se revela ao apostolo, dizendo: "Seja corajoso! Eu tenho visto como você tem sido Minha testemunha até aqui em Jerusalém... Mas saiba que sua carreira ainda não terminou... Você ainda será Minha testemunha em Roma!" Imagine o que passava na mente do apóstolo ao ter confirmada sua missão de pregar o evangelho na mais poderosa cidade do mundo, a capital do império romano! Trazendo à nossa realidade, há alguns aspectos desse singular versículo que devem ser abordados:


Quando Jesus apareceu era noite. Tudo estava em densas trevas. Aos olhos naturais não havia esperança para Paulo! Ele estava à beira da condenação. Quantos cristãos passando por circunstâncias tenebrosas da vida tem vontade de desistir de tudo? Quantas vezes o crente passa por momentos em que questiona a Deus o motivo, porém a única resposta é o silêncio? A sensação é que fomos abandonados por Deus à própria sorte!


Jesus apareceu ao lado de Paulo. O Senhor não havia abandonado o Seu servo. Ele sempre estava ao lado dele! Jamais seria esquecido, como declara o salmista: "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo" (Sl 23:4a). Ou "por que dizes, ó Jacó, e tu falas, ó Israel: O meu caminho está encoberto ao SENHOR, e o meu juízo passa despercebido ao meu Deus?" (Is 40:27)... Deus é fiel! E mesmo em face de todas as perseguições Paulo tinha consciência que o Senhor não o havia abandonado. Tanto é verdade que, como ele mesmo afirmou a Timóteo, seu filho na fé, apesar de todas as perseguições que sofria, o SENHOR de TODAS o livrou (2 Tm 3:11)...


A primeira palavra que o Mestre diz a Paulo é "Coragem"! Tende bom ânimo! Seja ousado! Persevera! Mesmo diante de tão grandes obstáculos, o crente deve permanecer na corrida, perseverando até alcançar o prêmio! O Corpo de Cristo precisa de homens corajosos como Davi, que não temia ursos, leões e nem sequer gigantes como Golias, pois sua confiança permanecia sempre estribada em Deus: "O SENHOR me livrou das garras do leão, e das do urso; ele me livrará da mão deste filisteu" (1 Sm 17:37)!


Jesus conhecia os passos de Paulo e sabia qual era a real situação do apóstolo. Ele viu o testemunho dado por ele frente à cidade de Jerusalém! Muitos de nós achamos que Deus nos abandonou de tal modo que desconhece o sofrimento a que estamos passando. Mas essa afirmação é uma mentira! Pois "tu [o Eterno] contaste as minhas aflições; põe as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas no teu livro?" (Sl 56:8)...


Nosso Senhor dá um novo desafio ao apóstolo. Ampliando a visão para além dos limites da percepção humana, mediante a fé de Paulo, o Eterno impulsiona o homem para cumprir a carreira proposta. Afinal, toda a capacitação vem por meio do Espírito Santo; Dele vem tanto o querer quanto o realizar! Cristo Jesus é o Autor (a origem, o princípio, o ponto de largada) e o Consumador (o fim, o ponto de chegada) de nossa fé!


Ora, de modo semelhante, Josué também foi um homem impactado pela mensagem de ousadia transmitida pela Palavra de Deus. Um homem que apesar de todas as adversidades, confiava em Deus, aproveitando as oportunidades que o Eterno proporcionava a ele. E tudo começou quando o Senhor se revelou, dizendo:


"Moisés, meu servo, é morto; dispõe-te, agora, passa este Jordão, tu e todo este povo, à terra que eu dou aos filhos de Israel. Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, vo-lo tenho dado, como eu prometi a Moisés. Desde o deserto e o Líbano até ao grande rio, o rio Eufrates, toda a terra dos heteus e até ao mar Grande para o poente do sol será o vosso limite. Ninguém te poderá resistir todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei. Sê forte e corajoso, porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais. Tão-somente sê forte e mui corajoso para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido. Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares." (Js 1:2-9)

Moisés, o grande líder que havia tirado Israel do Egito estava morto. O homem que havia feito tantos milagres pelo poder do Senhor já não estava entre eles. Como o povo iria sobreviver sem ele? Provavelmente, na mente de Josué havia uma profusão de pensamentos de dúvida, insegurança e medo: "Como poderei SOZINHO liderar um povo tão grande para conquistar a terra prometida?" Por diversas vezes o crente se pergunta: "será que conseguirei completar a a minha corrida?" E o Senhor, ciente dos questionamentos que constantemente passam na mente de Seus Filhos, afirma: "Eu sei que Moisés está morto... Contudo, DISPÕE-TE, AGORA! Corra! Não desista!


Em primeiro lugar, o Senhor afirma: "Continue! NINGUÈM poderá te resistir, pois assim como fui com Moisés assim serei contigo! Não te deixarei e jamais te abandonarei!". É interessante observar que o Eterno começa seu dialogo com essas palavras e o termina de maneira similar: "não temas nem te espantes pois eu serei contigo!". Algo similar pode ser encontrado no evangelho de Mateus. Logo no primeiro capítulo, é descrito o nascimento de Jesus, no qual é confirmada a profecia que seria dado a ele o nome de "Emanuel" ou Deus conosco. Já no último capítulo do evangelho, Jesus termina a Grande Comissão afirmando: "... e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos"! Tanto no princípio como no fim Ele está conosco! O Senhor é o alfa e o ômega, o princípio e o fim, Ele nos colocou na corrida e vai estar ao nosso lado até o fim!

Outro aspecto a ser observado no relato de Josué, é o caráter simétrico das palavras do Senhor. Entende-se por simetria a justa proporção de duas partes, localizadas em lados opostos de uma linha ou em torno de um centro. Por exemplo, o rosto humano é relativamente simétrico, ou seja, se dividirmos o rosto com uma linha vertical, passando bem em cima do nariz, teremos duas partes semelhantes: uma orelha, um olho, uma sobrancelha, meia boca, meio nariz, etc... Todas com proporções parecidas. Assim, se dividirmos a declaração do Eterno para Josué, na metade, encontraremos partes parecidas:

1º - Deus é Conosco: "Ninguém te poderá resistir todos os dias da tua vida; como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei, nem te desampararei."

2º - Deus enfatiza a necessidade de Perseverança: "Sê forte e corajoso"

3º - A Promessa: "porque tu farás este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais."

4º - Deus enfatiza a necessidade de Perseverança: "Tão-somente sê forte e mui corajoso..."

5º - A condição para a Promessa: "para teres o cuidado de fazer segundo toda a lei que meu servo Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que sejas bem-sucedido por onde quer que andares. Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido."

6º - Deus enfatiza a necessidade de Perseverança: "Não to mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes,"

7º - Deus é Conosco: "porque o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares."

Bem no centro dessa declaração está a mesma palavra que Jesus disse a Paulo: "Coragem!" Não desista! Seja ousado! Persevera! Ela é o cerne da mensagem de Deus: "Porque necessitais de PERSEVERANÇA, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa" (Hb 10:36) e, sendo assim, "nós também, pois estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com PERSEVERANÇA a carreira que nos está proposta" (Hb 12:1) ...

Fazendo uma analogia, imagine que esta mensagem simétrica é como um sanduíche de hamburguer, queijo e molho. Jesus (Deus conosco) é o pão (da vida!), a carne e o queijo são respectivamente a promessa e sua condição. Ora, existe graça em algum sanduiche sem molho? Pode ser catchup, mostarda ou maionese, mas comer simplesmente pão, carne e queijo, a sensação é de que está faltando alguma coisa... Por conseguinte, do mesmo modo que o molho dá um sabor diferente, a perseverança é essencial! E, particularmente, como espalharíamos o molho no sanduíche? Não seria entre os pães, a carne e o queijo, de forma que ficasse bem abundante? Assim também o Senhor nos revela a importância da perseverança na corrida citando por três vezes a expressão: "Sê forte e corajoso"! O cristão deve compreender o que uma vida de perseverança pode fazer à sua corrida! Ela é o combustível e o lubrificante do corredor!

Por fim, analisemos o "recheio do sanduíche", isto é, a promessa e sua condição de se cumprir. A terra prometida de Israel é sombra de algo muito maior revelado na vida de Cristo: a promessa de descanso para todos aqueles que crêem em Seu nome! Jesus prometeu que todos aqueles que viessem a ele seriam aliviados de sua carga, seu fardo, pois, como Ele mesmo declara na Palavra, "o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" (Mt 11:30).

Todavia, para o crente alcançar a promessa é vital que ele perservere em cumprir sua condição. E qual seria ela? A condição é fazer conforme toda a lei de Deus; é andar não se desviando nem para a direita ou para esquerda; é não cessar de falar sobre o livro da lei; é meditar de dia e de noite nos mandamentos do Senhor! Em outras palavras, é essencial uma busca constante e frequente pela leitura das Escrituras, com o intuito de ocupar a mente com a lei do Senhor, declarando através de sua boca em orações, súplicas, louvor e adoração os preceitos de Deus; demonstrando através de ações e na caminhada diária um caráter renovado e transformado pela Palavra do Eterno! Ou seja, tendo se enchido na mente, externando com a boca o que está cheio o coração, o crente é capaz de obedecer a seu Mestre demonstrando pelas suas mãos (obras) e pés (vida) a nova natureza de Cristo germinando em seu interior!

Quando Paulo recebeu essa palavra de conforto do Senhor Jesus, poderia ter pensado, como muitos cristãos hoje pensam, que a partir daquele instante tudo iria melhorar! Que terrível engano! Pois, em breve, ele perceberia que a pressão tenderia a aumentar cada vez mais... Destarte, logo no texto seguinte, é narrado o acontecimento de que mais de 40 homens fizeram voto de não comer ou beber até que Paulo estivesse morto! Como se não bastasse, após obter o livramento do Senhor, permaneceu em prisão dois anos, passou por naufrágio, foi picado mortalmente por uma víbora, perseguido, ferido, foi privado da convivência com entes e amigos, abandonado por seus queridos companheiros, tudo em nome do Evangelho, para honra e glória do Senhor Jesus!

Semelhantemente, com oitenta anos, Josué teve que enfrentar seus inimigos no campo de batalha. Não foram disputas fáceis, mas o Senhor, similar ao que ocorreu com Paulo, de todos os perigos trouxe o livramento! Começando ao sul da Palestina, por Jericó e Ai, iniciou uma série de campanhas bem sucedidas que resultou na conquista da Terra Prometida. O Senhor derrubou muralhas, fez parar o sol, trouxe saraiva de pedras sobre os inimigos... E após o repousar da guerra, Josué fez a divisão da terra às doze tribos de Israel. Com cento e dez anos, descansou, deixando um legado de obediência ao povo de Israel que, mesmo após sua morte, foi lembrado e mantido pelas mãos dos anciões que o conheceram até muito tempo depois.

Ao se comparar a vida desses dois homens percebe-se que o diferencial foi a resposta de ambos diante do chamado do Senhor: "Sê corajoso"! Passando por todos os obstáculos, enfrentando gigantes, sem desistir, sem desanimar, olhando firmemente para a "terra prometida", o Eu Sou, Jesus! Destarte, Paulo no final de sua vida constatou:

Quanto a mim, já estou sendo derramado como libação, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda. (...) Mas o Senhor esteve ao meu lado e me fortaleceu, para que por mim fosse cumprida a pregação, e a ouvissem todos os gentios; e fiquei livre da boca do leão, E o Senhor me livrará de toda má obra, e me levará salvo para o seu reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém. (2 Tm 4:6-8, 17-18)

Hoje o Senhor tem procurado homens e mulheres que sejam corajosas testemunhas, seja por palavras ou atos. Ele está constantemente nos convocando, nos momentos de maior escuridão na vida do crente. Seus olhos estão postos diante do justo, Ele está sempre com aqueles que o amam, Seus escolhidos. Ele conhece quais são as suas necessidades e sabe como está sua corrida. O Senhor é um pai de família de braços abertos incentivando seu filho pequeno a dar os primeiros passos. Ele tem uma meta e aguarda ansiosamente que ela seja cumprida. Para preparar Seus filhos Ele concede Sua Palavra, modo pelo qual o cristão se prepara para terminar a corrida. É essencial ao crente, portanto, guardar os mandamentos de Deus no coração, praticando Sua lei, com PERSEVERANÇA, a fim de alcançar o tão desejado galardão!

12/04/2008

Ira e Santidade: ordem no Caos

“O vinho não embriaga tanto ao homem como o primeiro movimento da ira, pois ele cega o entendimento sem deixar luz para a razão”. (Alemán, Mateo; em "Guzmán de Alfarache")

“Ira no lar é como o verme numa planta”. (Textos judaicos, em "Máxima hassídica")

“O varão mais forte é aquele que sabe dominar-se na hora da ira” (Maomé)

A ira é um forte sentimento de raiva, rancor, ódio e indignação, um conjunto de emoções inclinadas à violência , em diversas situações levando a um desejo de vingança. “Ira é um sentimento mental e emotivo de conflito com o mundo externo ou consigo mesmo, que controlamos pouco e manejamos pior ainda, deixando-nos fora de nossas ações.” (Wikipedia). A ira sempre foi objeto de estudo e análise do conhecimento humano em todas as suas facetas, seja, por exemplo, nas religiões, na Filosofia ou na Ciência. Pensadores como Aristóteles e Sêneca buscaram entender o comportamento irascível do homem, sua natureza explosiva, violenta e efêmera. Considerada pela Igreja Católica como um dos sete pecados capitais, isto é, segundo ela, aqueles que a praticassem seriam merecedores de condenação ao inferno, contudo, na Palavra de Deus é paradoxalmente apresentada tanto como um sentimento humano quanto um componente da natureza de Deus. Como pode ser isso? Como a Palavra Deus pode afirmar que algo tão negativo faz parte do caráter divino?

A Biblia afirma que há dois tipos de ira: uma, derivada da carne, do caráter pecaminoso encontrado na humanidade, e outra encontrada na natureza Santa de Deus. Cabe ressaltar que no Novo Testamento duas palavras gregas são utilizadas para significar este sentimento: orge e thumos. A primeira indica uma disposição mental mais branda, contida, porém duradoura, normalmente vinculada ao desejo de tomar vingança no futuro, muitas vezes definida como raiva ou indignação. Ela aparece nas Escrituras tanto para descrever a ira do homem (Ef 4:31; Cl3:8) como a de Deus (Mt 3:7; Rm 1:18, 9:22).

Por outro lado, thumos indica uma condição mais agitada de sentimentos – cólera ou furor - uma explosão repentina de ira decorrente de indignação interior, mas que brevemente se apaga. É característico, logo, do que se inflama depressa e rapidamente cessa. Este termo é encontrado 18 vezes no NT, sendo que em 8 das aparições há relação com a ira divina, constando uma delas em Rm 2:8, na qual aparece os dois termos juntos – “ira [thumos] e indignação [orge]” - e 7 delas no livro de Apocalipse (Ap 14:10,19; 15:1,7; 16:1,19; 19:15). As outras 10 referências restantes são relativas ao comportamento pecaminoso da humanidade ou de Satanás (Lc 4:28; At 19:28; 2Co 12:20; Gl 5:20; Ef 4:31; Cl 3:8; Hb 11:27; Ap 12:12; 14:8; 18:3 ).

Observa-se então que a ira explosiva de Deus é citada sete vezes em Apocalipse sempre relacionada à cólera do julgamento divino no Dia do Senhor, quando os adoradores da Besta beberão o “vinho da cólera de Deus”, no dia da colheita das uvas (nações) para o “lagar da ira de Deus”, em que serão derramadas as “sete taças da cólera de Deus”, onde o Verbo de Deus (Jesus) pisará esmagando seus inimigos:

“E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga a peleja com justiça. (...) Da sua boca saía uma espada afiada, para ferir com ela as nações; ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso.” (Ap 19:11,15)






Seria uma simples coincidência o fato de que o termo "thumos" é citado sete vezes (número que significa perfeição) em Apocalipse? Ou que, em Romanos, no capítulo 2 e versículo 8, seja a única vez que se faz referência além do Livro das Revelações, venha acompanhado do termo "orge"? Em outras palavras, que a ira explosiva e repentina a ser revelada no Dia do Juízo, apareça juntamente com a indignação divina contida porém permanente? Ora, há uma verdade espiritual escondida neste versículo, a qual é a chave para se entender a ira divina!




E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? Ou desprezas tu as riquezas da sua BENIGNIDADE, e PACIÊNCIA e LONGANIMIDADE, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, ENTESOURAS IRA para ti no DIA DA IRA e da MANIFESTAÇÃO DO JUIZO DE DEUS; o qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; mas a INDIGNAÇÃO [orge] e a IRA [thumos] aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniqüidade (...) (Rm 2:3-8)



A Ira de Deus é certa e iminente. A Palavra de Deus não mente, não se engana (Sl 119:160; Jo 17:17; Tt 1:2). Ninguém poderá se esquivar dela. Sua Palavra é que discerne a verdade da mentira (Hb 4:12). Nada pode escapar de Seu juízo (Jl 2:3). Não há um "jeitinho" brasileiro! O Eterno é onisciente e onipresente conhecendo toda intenção do coração humano e julgará a cada um conforme suas obras (Pv 20:27; 24:12; Ap 2:23). Portanto, todos os homens, sem exceção, comparecerão perante o Altíssimo para serem julgados segundo as intenções de seus corações:



E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiram a terra e o céu; e não foi achado lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono; e abriram-se uns livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. O mar entregou os mortos que nele havia; e a morte e o hades entregaram os mortos que neles havia; e foram julgados, cada um segundo as suas obras. (Ap 20:11-13)




A Ira de Deus é contida pela Sua Paciência. O Senhor Jeová é "tardio em irar-se", misericordioso e compassivo (Ex 34:6; Nm 14:18; Sl 103:8). Longanimidade faz parte do caráter divino: Deus é paciente com Seus escolhidos (Lc 18:7) e Seus inimigos (Rm 9:22-23) contendo Sua Ira até que o tempo da plenitude dos gentios chegue ao fim e a salvação de Israel se cumpra pela segunda vinda de Cristo (Rm 11:25-26).


A Ira de Deus é reservada ao Pecado. É destinada àqueles que são desobedientes à verdade, que rejeitam o Evangelho, abraçando a iniqüidade e a perversão (Rm 1:16). Todo aquele que rejeitar a obra da Cruz já está julgado (Jo 3:18) e será condenado (Mc 16:16).



A Ira de Deus é também visível no presente. Embora ela somente manifestar-se-á no dia do Juízo e da vingança de nosso Deus, já pode ser vista no presente, no envio do engano de Satanás, cegando o entendimento dos incrédulos para que não percebessem a luz do evangelho (2 Co 4:4), a "operação do erro" (2 Ts 2:7-11). Porque, como a humanidade não reconheceu a Deus preferindo adorar a criatura do que o Criador, Ele entregou o pecador a uma disposição mental reprovável, para que cada vez mais se afunde na lama da promiscuidade e perversão:


Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador (...) Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza; semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para como os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro. E assim como eles rejeitaram o conhecimento de Deus, Deus, por sua vez, os entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm; estando cheios de toda a injustiça, malícia, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, dolo, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pais; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, sem misericórdia; os quais, conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam. (Rm 1:24-32)

Portanto, a ira divina é um instrumento de Sua justiça para proteger Sua natureza santa. E, se há um caráter primordial de Deus, Sua Santidade é a principal. Deus é Santo (Is 6:3; Ap 4:8) e ele exige que todos aqueles que se aproximem Dele sejam também santos (1 Pe 1:15-16). Ser Santo, significa estar separado de todas as coisas, Ele é o Criador e Sua própria natureza o torna diferente de Suas criaturas: "A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? -- diz o Santo" (Is 40:25). Ele considera toda as nações "como um pingo que cai de um balde e como um grão de pó na balança" (Is 40:15), ou seja, nada são perante Sua majestade e glória. É Ele que concede ou retira a vida (1 Sm 2:6). Por isso todo homem deve temê-lo e adorá-lo (Sl 33:8; Sl 150:6; Jr 32:39). Como disse Habacuque, "Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar" (Hc 1:13a). Deus é puro, sem mácula. Nele não há impureza. O Senhor abomina o pecado e odeia a todos que praticam a iniquidade (Sl 5:4-5).


O homem vil, o homem iníquo, anda com a perversidade na boca, pisca os olhos, faz sinais com os pés, e acena com os dedos; perversidade há no seu coração; todo o tempo maquina o mal; anda semeando contendas. Pelo que a sua destruição virá repentinamente; subitamente será quebrantado, sem que haja cura.Há seis coisas que o Senhor detesta; sim, há sete que ele abomina: olhos altivos, língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente; coração que maquina projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal; testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos. (Pv 6:12-19)

Contudo, para se compreender a importância de Sua ira é necessário entender a gravidade do pecado. Pecado é toda transgressão à lei divina (1 Jo 3:14). Assim quando Adão desobedeceu à ordem de Deus comendo do fruto da àrvore do conhecimento do Bem e do Mal, ele não só violou este mandamento como trouxe graves consequências à toda criação (Gn 3:16-18). Toda lei criada por Deus tem como objetivo trazer ordem ao universo. Por exemplo, a lei da gravidade é vital para manutenção da vida na Terra. É ela que retêm a matéria na superfície do planeta, sem ela, não haveria atmosfera respirável, mares, oceanos e todas as criaturas estariam vagando pelo espaço à deriva. Seria o triunfo do caos sobre a ordem.

Assim, toda lei natural ou espiritual tem como função essencial estabelecer a ordem na desordem. Pode se afirmar, então, que com o advento da queda do homem, surge o princípio da entropia, segunda lei da termodinâmica, que declara que sem interferência externa um determinado ambiente sempre tende a se desordenar com o passar do tempo. Quando deixamos uma pedra de gelo fora da geladeira, ele irá se derreter até se transformar em uma poça dágua.

O pecado, destarte, tirou a ordem do universo, substituindo-a por um princípio de caos. O pecado, semelhantemente a uma célula cancerígena, não se submete a ordem do organismo, se reproduzindo desordenadamente a seu bel prazer, contaminando e destruindo a vida. O pecado, em tão pouco tempo, se espalhou, criando raízes profundas no homem, tornando-se cada vez mais disseminado, comum. Em pouco tempo, a semente de Caim, o homicida de seu irmão, assassinava por motivos banais, a saber, "porque ele me feriu" ou "porque ele me pisou" (Gn 4:23b). A iniquidade cresceu sobremaneira levando Deus a castigar a humanidade através do dilúvio (Gn 6:5-7). Todavia, mesmo demonstrando Sua graça a Noé, poupando-o da morte certa pela salvação da Arca, o problema do pecado não foi eliminado. Pois, tão logo Noé saiu da mesma, plantou uma vinha e se embebedou, cometendo pecado perante o Senhor (Gn 9:20-27).

De forma similar, procurou Deus encontrar um justo na terra (Sl 14:2-3), não o achou mesmo dentre todos os heróis da fé que escolheu: Abraão, Jacó, Moisés, Davi... Todos eles (assim como toda a humanidade) pecaram diante de Deus e careciam de Sua glória (Rm 3:23). Por conseguinte, Deus, Ele mesmo, mediante Seu braço forte desceu à terra, fazendo-se carne para através de Sua obra trazer justiça e juízo a terra, devolvendo a ordem à criação (Is 59:16; Jr 33:15; Jo 1:14). Ele é o Verbo de Deus, Cristo Jesus. Assim como, no princípio, por intermédio Dele deu ordem ao caos - por intermédio de Sua Palavra disse "Haja luz" (Gn 1:3) - agora, pela consumação da obra na Cruz, devolve ordem à desordem do pecado! Sendo desta maneira, a ira de Deus manifestada no Calvário, na morte do Filho de Deus, a consumação da salvação não só do homem, todavia de toda a criação, a libertação do poder da morte advinda pelo pecado:


Porque a criação aguarda com ardente expectativa a revelação dos filhos de Deus. Porquanto a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que também a própria criação há de ser liberta do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, conjuntamente, geme e está com dores de parto até agora; e não só ela, mas até nós, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, aguardando a nossa adoração, a saber, a redenção do nosso corpo. (Rm 8:19-23)

Todo o universo está esperando a plenitude da Salvação em Cristo, destinada a todos aqueles que crêem em Seu nome! Todo aquele que ouve a voz do Senhor e o obedece, o segue, é Sua ovelha (Jo 10:27), é similar ao contrutor que edifica sua casa na pedra (Mt 7:24-27). Ora, esta é a Rocha de nossa Salvação, nosso libertador. Rocha significa segurança, firmeza, constância e ordem. A areia é o inverso: denota desconfiança, instabilidade, inconstância e caos. A areia é formada pela decomposição da rocha pela erosão, por ação do vento e da água. A areia é a pedra fragmentada, em processo de desordem. Dessa forma, pode-se inferir que todo aquele que não se firma em Cristo, está edificando sua vida em desordem e, consequentemente destinado à destruição!

Agora, nós, crentes, mediante Sua morte, estamos livres da ira vindoura (Rm 5:9; 1Ts 1:10). As "tempestades" e tribulações reservadas aos ímpios não nos alcançarão, pois, nossa fé está edificada em Cristo, a Pedra Angular (1Pe 2:4-5). Por isso declara o Senhor: "Pois que tanto me amou, eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque ele conhece o meu nome" (Sl 91:14). Esta é a promessa para todos aqueles que conhecem Seu nome, que não pereçam na ira divina mas estejam em segurança firmados na Rocha! Afinal, ter a vida eterna, conforme Cristo afirma, simplesmente, não significa conhecer a Deus?

Conclui-se que a ira de Deus é vital para a própria existência do universo. Sem ela, sem as intervenções divinas, toda a criação seria dizimada pelo processo de entropia iniciado pelo pecado original. A ira divina é um instrumento do Senhor para executar sua justiça e juízo, defendendo seu caráter santo. E foi pela vida, morte e ressurreição de Seu filho Jesus, que a Ira de Deus foi consumada, restaurando a ordem divina à criação, destinando pela predestinação alguns, aqueles que crêem, à salvação, e outros, aqueles que rejeitam a verdade, à perdição.

28/03/2008

A perfeita salvação significa fé no crisol de Deus

A humanidade sempre buscou, através da religião, se aproximar de Deus pelos seus atos de justiça, pela penitência e por sacrifícios. Contudo, como a própria Palavra de Deus afirma, toda a ação do homem é ineficaz porque o pecado impede a humanidade de se aproximar de Deus. Ora, Sua santidade torna impossível que o ser humano caído possa conhecê-lo; o Eterno é inalcançável mesmo para aqueles que, na ótica humana, possuem uma moral impecável... Éntretanto, há uma força que impele o homem em desejar ardentemente agradar a Deus e acreditar que através de suas obras poderia alcançar a Sua aprovação. E, o pior de tudo, é perceber que esse tipo de pensamento não se limita ao mundo incrédulo, já que, a princípio, a Igreja primitiva já era ameaçada por essa mentalidade.


Ó INSENSATOS gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós? Só quisera saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne? Será em vão que tenhais padecido tanto? Se é que isso também foi em vão. Aquele, pois, que vos dá o Espírito, e que opera maravilhas entre vós, fá-lo pelas obras da lei, ou pela pregação da fé? (Gl 3:1-5)

O apóstolo Paulo constatou o perigo do "ranço" da lei judaica e interpôs contra toda forma de evangelho que fosse contrário a salvação pela fé na cruz de Cristo. Em certo momento, inclusíve, repreendeu Pedro, por seu preconceito com os gentios e perverso respeito humano perante os judaizantes. Paulo estava consciente que a salvação é um dom de Deus, originada pela graça mediante o sacrifício de Jesus (Rm 5:15-17; 6:23). Ele sabia que obra da cruz era mais do que suficiente para trazer a salvação aos perdidos.


É interessante observar que este problema não se limitou a Igreja da época dos apóstolos, mas até hoje vivemos situação semelhante: as indulgências, os dogmas e leis da Igreja Católica apóstata, como também, de muitas congregações que se denominam "evangélicas" utilizando-se de subterfúgios para manter os fiéis como seus membros. Seja através das proibições de uso ou comportamento (de comer, beber, vestir) seja pela imposição de maneiras para se achegar a Deus (rezar dez ave-marias, fazer o jejum ou aquela corrente de oração), para receber o perdão de pecados ou bênção divina, tudo isso é considerado como nada, sem valor algum:

Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne. (Cl 2:20-23)


Se a Palavra de Deus declara que a Salvação é um dom gratuito de Deus, como posso afirmar que a perfeita salvação vem pela provação e confirmação de nossa fé? O cristão realmente precisa fazer alguma coisa para receber a salvação? Sim, há uma condição para o homem receber a salvação: obviamente ele precisa crer, ter fé! Mas antes de explicar o que significa essa condição, em primeiro lugar é necessário definir o que é salvação.


Nas Escrituras, a palavra salvação (soteria, no grego) possui um diversidade de significados: "redenção", "resgate", "libertação", "preservação", "conservação", "cura". A Salvação, em toda sua plenitude, é um conceito amplo, que compreende uma herança incorruptível, sem mácula, sem mancha, eterna, guardada, segura, reservada nos céus (1 Pe 1:4) para nós, crentes:

  • a reconciliação de Deus com o homem, mediante a morte de Cristo, tornando-se este, agora, amigo de Deus e estando salvo das consequências de Sua ira pelo pecado (Rm 5:9-11; Ef 2:11-16; Cl 1:20,22)

  • a purificação, a remissão dos pecados, tornando-se o homem justo perante Deus (Hb 1:3; 2:17)

  • a libertação do reino das trevas e do medo da morte, o homem não mais é escravo do pecado e de Satanás (Cl 1:13; Hb 2:14-15; 1Co 15:54-57)

  • O privilégio ao acesso a Deus para oferecer a Ele um culto aceitável (Hb 4:16; 10:19-22; 12:28-29; 13:15-16)

  • Adoção como Filhos de Deus e entrada no reino de Sua Glória (Hb 2:10-11)

  • A transformação de nosso ser à imagem e semelhança de Cristo Jesus, de glória em glória, incluindo não somente o homem espiritual, mas a promessa de renovação de nossa alma e ressurreição de nossos corpos mortais (1 Co 15:50-54; 2 Co 3:18)

  • A promessa de descanso, de novos céus e nova terra, em um mundo vindouro, Jerusalém, a cidade celestial (Hb 11:16)

Portanto, tendo ciência dessa herança em Cristo, há dois aspectos da salvação que devem ser analisados. Primeiro, a salvação não se limita ao espírito humano (o homem interior), mas engloba também a alma (emoções, mente, vontade) e o corpo físico. Enquanto este será ressucitado no dia da Glória do Senhor, aquela está sendo continuamente transformada pela Palavra de Deus e pelo poder de Seu Espírito Santo. Em segundo lugar, o processo salvífico é gradual, somente será consumada com a volta de Jesus. Embora algumas das promessas supracitadas não se concretizaram - como por exemplo, a transformação plena de nosso caráter à identidade de Cristo e o descanso na nova Jerusalém - temos a plena certeza que Deus é fiel para cumprí-la (Is 55:10-11; Nm 23:19), afinal ele está sempre zelando pela Sua Palavra!


Porque os homens certamente juram por alguém superior a eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda a contenda. Por isso, querendo Deus mostrar mais abundantemente a imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com juramento; para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta; a qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu, onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque. (Hb 6:16-20)


Conhecendo a esperança proposta em Cristo, crendo pela fé na consumação da salvação, assim como declarou o autor de Hebreus, "retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade" (Hb 12:28). Neste contexto, "reter" denota uma disposição mental em que o cristão tem a firme consciência da graça de Deus; ou seja, que não há nele mérito algum e que sua redenção está integralmente alicerçada em Jesus Cristo. Corroborando este pensamento, Paulo exorta Timóteo a conservar a fé e a boa consciência, evitando-se, assim, "naufragar" nela.


Ora, sabemos que fé é "a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem" (Hb 11:1). Destarte, a fé é uma certeza em nosso coração, uma convicção em nosso homem interior, que suplanta toda razão, todo entendimento, invadindo o domínio da alma, trazendo uma nova concepção mental. A fé é essencial em todos os momentos da vida cristã. Sem ela é impossível agradar a Deus (Hb 11:6), é o "oxigênio" do nascido de novo: através dela os crentes recebem a vida eterna (Jo 3:36), tornam-se justos (Gl 2:16) e por ela vivem (Gl 3:11). Logo, o mais alto grau de valor que o Eterno confere a fé revela a sua importância no plano divino da salvação da humanidade; a fé na gratuidade do sacrifício de Cristo é o fundamento do evangelho:


Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus. Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. (1 Co 3:9-11)

A combinada com o poder do Espírito de Deus possui um papel essencial na trajetória de vida do crente: preservá-lo, conservá-lo, guardá-lo para o dia da Salvação, o instante em que todo o propósito do Senhor para Seus filhos será confirmado. Como em uma reação química, ao consubstanciar estes dois elementos, forma-se o resultado que é o objeto da Salvação Perfeita: o novo homem transformado em todos os seus aspectos de existência (espírito, alma e corpo). Essa mistura, para Pedro, é apresentada como sendo a provação de nossa fé (1 Pe 1:5). Usando de metáfora, compara essa reação ao processo de refino do ouro, no qual quando temperado por fogo (o poder de Deus) purifica o metal, separando-o dos resíduos impuros. Sabe-se que esse beneficiamento é um processo lento, pois se o material for aquecido de uma só vez, o ouro puro irá se fundir aos outros elementos que compõem a liga original. Por conseguinte, o aumento da temperatura é gradual, é feita em etapas, de modo que as outras substâncias possam ser eliminadas restando somente a preciosidade do primeiro.

Assim, a fé é provada, refinada pelas chamas das circunstâncias, que o Senhor nos apresenta, pois como declara a Bíblia, "nosso Deus é fogo consumidor" (Hb 12:29). Por intermédio das aflições desse mundo que os filhos do Altissímo são disciplinados, para que, pela confirmação da fé, produza perseverança, experiência e esperança; isto é, paciência (longanimidade), fruto de justiça (Rm 5:3-4; Hb 12:7; Tg 5:11). Deste modo, assim como pelo fruto se conhece a árvore e sabe que está amadurecida (Mt 12:33; Mt 21:19), também pelo acrisolamento da fé, percebem-se os frutos do Espírito (Gl 5:22-23); quer dizer, mediante essa aprovação compreende-se que o cristão é maduro, experiente, perfeito e íntegro (Tg1:2-4).


E, se alguém sobre este fundamento [Jesus Cristo] levanta um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será reveldada no fogo, e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se permanecer a obra que alguém sobre ele edificou, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo todavia como que pelo fogo. Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque sagrado é o santuário de Deus, que sois vós. (1Co 3:12-17)

Há um só fundamento, o qual é Jesus. Se alguém erguer base divergente deste será julgado pelo fogo consumidor. Porque assim como o fogo consome a palha, o feno e a madeira deixando somente o que é de valor (ouro, prata e pedras preciosas), no Dia do Senhor, todos os crentes serão julgados por suas obras, para receberem segundo o fizeram, o prêmio, o galardão, a coroa da glória. Mas que obras são essas? São obras de justiça, caridade, como muitos afirmam? Será que Paulo, inspirado pelo Santo Espírito, está dizendo que pela quantidade de pessoas convertidas ao evangelho, demônios expulsos, pelos enfermos curados serão medidas nossas obras?

Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. (Mt 7:21-23)

Qual é a vontade de Deus? "Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo 6:40). A vontade de Deus é que o homem creia Nele, que CONHEÇAM a Ele, tendo a fé alicerçada na Rocha, em Cristo! Quando os discípulos perguntaram para Jesus quais seriam as obras que deveriam realizar para Deus, o que ele lhes respondeu? "Jesus lhes respondeu: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou" (Jo 6:29). Que CREAIS em Jesus Cristo! Enquanto os discípulos perguntaram no PLURAL, Jesus respondeu no SINGULAR! Porque? A resposta está em Jo 17:4, quando, antes de ser preso, crucificado e morto, Jesus ora ao Pai: "Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer". A obra da fé já foi completada por Cristo, foi dada gratuitamente por Deus, e, tendo consciência disso, todo cristão deve simplesmente CRER em Deus, que Ele é mais do que suficiente para nos aperfeiçoar no dia da revelação de Jesus Cristo, naquele momento em que a salvação será perfeita!

Ora, as obras de justiça, não são a causa da salvação, mas os resultados. Por isso Tiago afirma que a fé sem obras, sem prática é morta (Tg 2:14-17). Assim, uma vida de fé, transformada pela Palavra de Cristo, por meio do Espírito, gera frutos de amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade (misericórdia), bondade, fé, mansidão, temperança. O uso dos dons no Corpo de Cristo, é consequência do amor que Deus derrama nos corações de Seus filhos, tornando-os capazes de manifestar Seu amor ao próximo, oferecendo suas vidas como remédio aos doentes e seus frutos como alimento aos famintos (Ez 47:12; Mc 12:17).

Então o que o crente tem que fazer para receber o galardão? Há três dicas que podem ser retiradas da primeira epístola de Pedro:

(...) e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo. E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá.

  1. PACIÊNCIA nas aflições submetendo-se à poderosa mão de Deus, humilhando-se diante Dele para que em tempo oportuno seja exaltado, depositando Nele toda carga de preocupação, confiando, descansando em Cristo;
  2. SOBRIEDADE que implica uma vida de santificação pela comunhão com o Pai: mantendo a fé edificada sob a sã doutrina (2Tm 4:5), não se deixando levar pelas paixões da carne mas se enchendo do Espírito (Ef 5:18) e cingindo (no sentido de coesão e integridade) o entendimento pela renovação da mente através da Palavra;
  3. VIGILÂNCIA no sentido de estar sempre atento às investidas de Satanás, resistindo-o (impondo uma força contrária a ele) na fé por meio do que dizem as Escrituras (Mt4:1-11).

E a consequência do nascido de novo agir com perseverança (paciência), sobriedade e vigilância, refinando a fé no crisol do Senhor (Pv 17:3), é que Deus (não o crente) irá, Ele mesmo, aperfeiçoar, confirmar, fortificar e fortalecer. Pois, o crescimento espiritual vem do Senhor; cabe ao cristão caminhar na Sua imensa e constante graça, perseverante, operando sua salvação com temor e tremor (reverência e dependência), confiando totalmente que a mesma será completada, estando ciente que o querer (o pensar, a vontade, a origem) e o realizar (o agir, o resultado, o fim) vem do Eterno (Fp 2:12-13)!

05/03/2008

O que nós somos em Cristo Jesus? (Parte 04)

Para que cada cristão possa enfrentar os desafios que lhe são impostos, é necessário que ele conheça a si mesmo, isto é, esteja ciente do que ele é como Filho de Deus. A Biblia afirma, pelos escritos de Pedro, que TODO crente é Raça Eleita, Sacerdócio Real, Nação Santa e Povo de propriedade exclusiva de Deus.

Como indivíduo, todo aquele que crê em Jesus e experimenta o novo nascimento faz parte de uma nova geração predestinada para andar com Deus, fazendo Sua vontade. Como nova criatura, o filho de Deus assume o papel de sacerdote, em seu relacionamento íntimo com o Pai. Por conseguinte, mediante essa relação vertical ele pode (e deve) trazer ao próximo o reino de Deus, em um relacionamento horizontal, através do amor divino que flue de seu coração de servo; esta é, em síntese, a função do rei: praticar o juízo e a justiça aos pobres e necessitados.

Em âmbito coletivo, nós, filhos do Altíssimo, somos a Nação Santa e o Povo de propriedade exclusiva de Deus:

3 - Nós somos a Nação Santa e o Povo de propriedade exclusiva de Deus!

No original grego, nação (ethnos), significa multidão ou povo; é o mesmo sentido apresentado em Jo 11:51 quando a Biblia afirma que Jesus deveria morrer pela "nação", apontando para o povo de Israel. Como o termo "nação" está intimamente relacionada ao "povo", logo, não se pode separar a declaração "nação santa" e "povo de propriedade exclusíva de Deus", pois, na realidade, ambos apontam a uma realidade espiritual única representada, de modo similar, tanto por Israel, quanto pela Igreja de Cristo. Conclui-se que há um paralelo entre o povo israelita e o povo cristão, quanto nação santa, separada, consagrada a Deus e povo peculiar ou próprio Dele.
Não é coincidência que no português o cognato "etnia" ou "étnico" significa um "conjunto de indivíduos unidos por caracteristicas somáticas (corpóreas ou físicas), culturais e linguísticas" (Dicionário Online Priberam).
A nação de Israel, tem a mesma origem somática, todos vieram de uma mesma carne, um mesmo homem; possuem a mesma formação cultural (padrões de comportamento, crenças, valores morais e materiais, a mesma carga de conhecimento como sociedade); possuem a mesma linguagem, o hebraico, considerada como a lingua primária israelita. Sendo assim, podemos inferir que existem elementos essenciais para formação de uma nação ou país que podem ser identificados não somente no Estado de Israel (antigo ou moderno), mas também presente em qualquer outro país gentio: o Povo, a Língua; o Governo Soberano; o Território e a Finalidade. Assim, todo Estado é formado por um povo, que possui uma língua comum, estabelecido em um território, cujos individuos se submetem a um governo soberano, com um objetivo, uma finalidade comum a toda aquela sociedade.

Ao constituir a nação de Israel, o primeiro ato de Deus foi escolher o Seu Povo, mediante um homem, Abrão:

Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Eu farei de ti uma grande nação; abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu, sê uma bênção. Abençoarei aos que te abençoarem, e amaldiçoarei àquele que te amaldiçoar; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gn 12:1-3)

Deus escolheu um homem para formar dele uma grande nação. Quando o Senhor declarou que "em ti serão abençoadas todas as famílias da terra" significava que, assim como de uma só carne, em um só dia, pela Sua Palavra, formou-se todo um povo (a nação de Israel), semelhantemente, de um só homem, Jesus Cristo, constituiu-se uma grande nação espiritual, a Igreja (Rm 5:19; 1Co 15:21). Ou seja, mediante o Salvador, todas as famílias da terra agora teriam a oportunidade de se tornar uma só família em Deus (Ef 2:19)!

No momento da entrega da Lei, Deus declarou a Moisés que se o povo de Israel O obedecesse guardando Sua aliança, eles seriam a Sua "propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha". O que isso significa? Se analisarmos na Bíblia Hebraica (Ed. Sefer) a palavra utilizada no lugar de "propriedade peculiar" é "tesouro". O termo "tesouro" (no grego "the", de "depósito" e "aurus", de "ouro") significa um lugar onde se guarda as mais preciosas riquezas, aquilo que há de mais valioso e especial. Embora toda a terra seja de propriedade do Eterno, o povo de Israel, e paralelamente, a Igreja de Cristo, é, aos olhos do Criador, o Seu tesouro, o depósito onde Ele guarda as suas maiores riquezas!

Qual é a maior riqueza que Deus pode depositar em Seu tesouro? Em Isaías, o Senhor prometeu a salvação a Israel: "O SENHOR está exaltado, pois habita nas alturas; encheu a Sião de juízo e justiça. E haverá estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação, sabedoria e conhecimento; e o temor do SENHOR será o seu tesouro" (Is 33:5-6). Preste atenção: "o temor do Senhor será o seu tesouro"! Ora, a biblia também não afirma que o "temor do Senhor é o princípio da Sabedoria" (Sl 111:10; Pv 1:7; Pv 9:10) e que "a intimidade do Senhor é para aqueles que o temem"(Sl 25:14)? Por conseguinte Deus considera o Seu povo como o receptáculo de toda sua sabedoria, de todo o Seu conhecimento, de todo o Seu Ser! Este é o objetivo do Eterno, dar-se a conhecer a todos aqueles que o buscam: "Meu conteúdo será a herança para os que me amam, e eu formarei seus tesouros" (Pv 8:21, Bíblia Hebraica, ed. Sefer). Esta promessa já foi cumprida por intermédio do Senhor Jesus Cristo, como Paulo mesmo disse:

Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o SENHOR; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. (2Co 4:4-7)

Este tesouro é a mente de Cristo, o Espírito Santo de Deus que habita no interior de toda nova criatura, de todo aquele que é nascido de novo, de todo homem que crê e confessa ser Jesus o Senhor, filho de Deus e manifesta ao mundo como homem! É este o privilégio de todo crente, ter a Sua marca gravada em seu coração, ser selado pelo Criador para a salvação! Como antigamente todo rei selava seus bens, seus tesouros com sua marca pessoal, garantindo sua autenticidade, exclusividade e propriedade, assim também o apóstolo Paulo afirma que todo filho de Deus foi selado pelo Espírito da promessa, o penhor (a garantia, a segurança, o testemunho) de nossa herança no Senhor, a fim de alcançarmos a redenção final (de nossa alma e corpo ainda corrompidos) da possessão adquirida para louvor de Sua glória (Ef 1:13-14)!

Todavia, assim como Deus nos concedeu a Sua natureza através de Seu Espírito, Ele é um Deus ciumento e exige exclusividade (Tg4:5)! Portanto, da mesma forma que Ele se deu a conhecer, se entregando por amor a nós, cristãos, temos o dever de nos entregar totalmente a Ele! Assim como em um relacionamento de marido e mulher, o homem deve amar sua esposa tal qual Cristo ama a Igreja, também há a reciprocidade da esposa (a Igreja) em se submeter ao seu marido (Cristo), entregando-se totalmente a sua vontade (1 Co 7:3-4; 2 Co 11:2; Ef 5:22-32).

Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo. Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas; E, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a. (Mt 13:44-46)

O reino de Deus é o próprio Senhor Jesus (Sua sabedoria, conhecimento, riquezas) reinando, vivendo, habitando em nossos corações, sendo tão valioso como o tesouro escondido no campo ou uma pérola de grande valor. Da mesma maneira que o nosso Pai celeste se relacionou conosco, como filhos temos a responsabilidade e privilégio de conhecê-Lo, relacionando-se com Ele. Este é o papel sacerdotal, de manter um relacionamento vertical com Deus.

O livro de Provérbios está permeado da necessidade de se encontrar a sabedoria divina, logo, constantemente afirma a sua importância para o justo, bem como as diversas bênçãos decorrentes dela, levando-o a uma vida longa, boa e agradável, com saúde, cheia de paz e sucesso em tudo o que realizar. Destarte, há uma analogia no modo como homem perscruta um tesouro escondido e a busca pela sabedoria que provém do relacionamento com o Eterno: "pois se buscares a compreensão, e por ela ergueres tua voz, procurando-a como se busca a prata e lutando como se faz por um tesouro" (Pv 2:2-3, Bíblia Hebraica, ed. Sefer)... Como um homem luta por um tesouro? Não seria até que suas forças estivessem totalmente exauridas? Até o último fôlego humano? Tanto é assim que Jesus, bem declarou que o reino de Deus é ganho por esforço (Lc 16:16) e estreito é o caminho para a vida (Mt 7:14). Da mesma maneira afirmou Paulo:

Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado. (1 Co 9:24-27)

Como povo escolhido de antemão por Deus, predestinado pelo Eterno, temos privilégio de conhecê-lo, assumindo o nosso papel de reino de sacerdotes. Entretanto, a função primordial deste relacionamento não é um modo egoístico de aquisição de conhecimento ou sabedoria, mas é manifestar o amor derramado em nossos corações por Ele, na vida das outras pessoas. É sermos reis nesta terra, praticando a justiça e o juízo ao próximo, o segundo mandamento, a segunda tábua da lei, os cinco últimos mandamentos principais de Moisés. Todavia, o que a manifestação do amor de Deus tem a ver com o conceito de nação santa e povo peculiar? Assim como o hebraico é a lingua principal e natural dos israelitas, o amor é a linguagem primordial de filho de Deus:

Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nos amamos uns aos outros, Deus está em nós, e em nós é perfeito o seu amor. (...) E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele. Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo. No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor. Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também a seu irmão. (1Jo 4:7-12, 16-21)

Lingua é a maneira pela qual o homem consegue se comunicar exprimindo sua vontade, seus sentimentos e seu conhecimento. Deus, por intermédio de Seu imenso e constante amor, enviou Seu único filho a favor da humanidade. Ele exprimiu a Sua vontade, Suas emoções e todo o Seu conhecimento no caráter de Jesus Cristo, sendo este a manifestação de Sua graça e de Sua verdade (Jo 1:14). A linguagem que Deus usou para se expressar ao homem foi o amor; é esse o mesmo idioma daqueles que são chamados filhos de Deus. A Igreja de Cristo tem a capacidade não somente de amar a Deus, mas também de amar o próximo como a si mesma. E é essa lingua do amor divino que ultrapassa as barreiras do pecado e manifesta em nós o verdadeiro caráter de Cristo! O amor de Cristo, na vida do crente, é o modo pelo qual somos reconhecidos por todo o mundo espiritual e natural como geração eleita, como reis e sacerdotes do Altíssimo!

Enquanto o povo e a língua é algo natural, inerente e implícito ao homem (todo ser humano tem uma origem e precisa se comunicar). O governo soberano é algo imposto, normalmente estabelecido por coerção seja baseado no poderio militar (de modo mais visível), ou de maneira sutil, mediante a imposição de leis e regras legais. Vários estudiosos consideram o Torá (mais específico o Pentateuco) como uma das primeiras Constituições estabelecidas por um povo da antiguidade, no caso, os hebreus. Cabe informar que Constituição em síntese seria, conforme Alexandre de Moraes: "lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, a formação dos Poderes Públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos" (Direito Constitucional, Ed Atlas).

À luz da Palavra, podemos concluir que, o Senhor, quando instituiu a Lei estava constituindo um Estado, estabelecendo sua estrutura, a formação do governo, distribuindo responsabilidades (competências), os direitos, deveres e garantias de cada hebreu. Através da Sua Palavra, regras para uma convivência saudável foram estabelecidas, entre Deus e o povo, entre o judeu e seus semelhantes. E principalmente, o Eterno estabeleceu o modo pelo qual a nação deveria adorá-lo e relacionar-se com Ele:

Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos. Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o SENHOR o dia do sábado, e o santificou. (Ex 20:1-11)

Coincidência ou não (pessoalmente não creio que seja) o termo "Senhor" é citado sete vezes neste trecho. Vale ressaltar que este é o cerne do relacionamento do israelita com Deus, pois representa o primeiro mandamento: "Amarás teu Deus, de todo o coração, de toda sua força, de toda sua alma e de todo o seu entendimento". E justamente aqui, o Senhor é citado plenamente, em toda sua perfeição, em toda sua soberania!

Existe, por conseguinte, um sentido mais profundo neste texto que está vinculado ao significado da expressão "Governo Soberano". Governo pode ser entendido como sendo o ato de gerir, reger, conduzir, administrar, dirigir, comandar. É o senhorio, é o domínio sobre algo, através do planejamento de ações, da orientação de meios, da organização de recursos, do controle e aferição dos resultados. Contudo o ato de governo pressupõe a autoridade para a tomar as decisões. Esta é a essência da soberania, a qual pode ser compreendida como a capacidade de um governo em exercer o domínio e controle sem se submeter a qualquer outro poder. Logo, Governo Soberano é a autoridade suprema, excelsa, acima de todo o poder e dominio, totalmente capaz de decidir o destino daqueles que lhe são subordinados.

Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá para sempre. (Dn 2:44)

O profeta Daniel revela a Nabudonosor uma profecia que diz que do seu reino sucederiam outros poderosos sobre a terra. Entretanto, uma pedra, não cortada por mãos humanas, esmagaria todos os reinos e dela sucederia um novo reino, soberano e sem fim. Esta pedra é aquela a qual os construtores rejeitaram (Sl 118:20), a pedra de tropeço e rocha de escândalo (Is 8:14); porém para todos os que crêem é preciosa, não fugirão, não serão confundidos e nem terão medo dela (Is 28:16). Ela será o seu fundamento e sua rocha. Alicerçados nela, todos serão um só povo, uma só construção:

Assim, pois, não sois mais estrangeiros, nem forasteiros, antes sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício bem ajustado cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito. (Ef 2:19-22)

Cristo é esta Pedra, a declaração de Pedro ("Tu és o Cristo!"). O Messias "cortado" pelo Eterno e enviado para ser o único a conciliar os ofícios de sacerdote e rei em Seu Santuário. Como sumo-sacerdote penetrou o Santo dos Santos dos Céus - a presença de Deus - ofereçendo seu próprio sangue a favor de todos os pecadores (HB 4:14); como Rei dos reis e Senhor dos senhores, seu nome foi exaltado acima de todo domínio, poder, principado e potestade (Ef 1:21). Logo, assim como primeiro Adão em seu queda perdeu a soberania e o domínio concedido pelo Criador sobre a terra (Gn 1:28), entregando-o à serpente, o príncipe deste mundo (Gn 3:17-18; Jo 14:30; Ef 2:2); aprouve Deus, enviar um homem, filho unigênito do Altíssimo, para resgatar das mãos do Diabo o domínio e o poder, devolvendo-o ao homem:

tendo sido sepultados com ele no batismo, no qual também fostes ressuscitados pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos; e a vós, quando estáveis mortos nos vossos delitos e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos; e havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz; e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz. (Cl 2:12:15)

Agora, através do Nome de Jesus, todo cristão tem a autoridade e domínio, tornando-se capaz para reinar, em Cristo, ainda nesta vida: "Eis que vos dei autoridade para pisar serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; e nada vos fará dano algum"(Lc 10:19). Essa é a herança e recompensa dos filhos de Deus, os servos do Senhor, que nenhuma arma forjada contra o cristão prosperará e toda palavra que contender contra ele já está julgada, condenada e fadada ao fracasso (Is 54:17).

Embora tenhamos o poder de reinar, há uma condição para que a autoridade de Cristo possa fluir em nossas vidas: o Senhorio de Jesus. Somente quando o Corpo de Cristo se submete ao Cabeça, só quando o cristão é submisso ao senhorio de Jesus, como uma criança (Mc 10:15), a plenitude do reino de Deus o alcança. Porque, como dizem as escrituras, "todo aquele que se exaltar será humilhado, mas todos aquele que se humilhar será exaltado" (Lc 18:14). Enfim, o domínio sobre a terra foi conquistado por Cristo Jesus e somente por intermédio do Rei acima de todos nós, reis, e Senhor de todos nós, senhores, o reino de Deus torna-se manifesto em nossas vidas!

Outro elemento importante a formação de uma nação, o território, constitui a promessa, o objetivo estabelecido por Deus para Israel, o qual era a terra prometida. A terra em que mana leite e mel (Lv 20:24), onde a vitória seria alcançada. É interessante observar que jamais Deus afirmou a ausência de batalhas. O território estava cheio de outros povos fisicamente mais poderosos que a nação israelita. Porém, a promessa era que, um a um, seriam derrotados pelo Senhor, através das mãos dos guerreiros hebreus. Assim como o reino de Deus é tomado por esforço, Israel tomaria a força sua terra prometida. Analisando mais profundamente, o Povo de Deus erá a maneira pela qual Deus traria o juízo sobre aquelas nações idólatras, pois o tempo de misericórdia (quatrocentos anos) havia se encerrado:

Então disse (Deus) a Abrão: Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, Mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia. (Gn 15:13-16)

Para o povo de Israel, a terra prometida era a terra do descanso, na qual alcançariam enfim, a tão esperada paz (Js 1:13). Contudo, havia uma condição essencial para que o povo alcançasse o descanso: crer e obedecer à voz de Deus. E foi exatamente neste ponto que Israel caiu. Quando a nação estava às portas da terra, o Senhor provou sua fé enviando os espias àquela terra (Nm 13:1 - 14:38). Por causa do relatório negativo, a incredulidadede, enfim, sua desobediência, o Senhor afirmou que todos aqueles daquela geração "jamais entrariam em meu repouso" (Sl 95:11), exceto Josué e Calebe, homens de fé que mantiveram a certeza da providência divina.

E o que significa repouso? No momento em que Deus entregou os dez mandamentos, Ele institui o Sábado, o quarto mandamento, como dia de descanso. Neste dia ninguém poderia trabalhar, nem fazer atividade alguma, "shabbat", deriva do verbo "cessar". Qual é a razão de um mandamento tão peculiar? Era uma homenagem à ociosidade, à preguiça? Não! Deus quando criou o mundo fez todas as coisas em seis dias e no sétimo descansou. Ora, Deus ficou cansado? Não! Afinal, como declara Isaías (40:28), "não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga?" Ora, o princípio espiritual do dia de descanso não significa OCIO, mas CONFIANÇA, pois Deus de antemão já criou e estabeleceu todas as coisas, preparando-nos o caminho para que tanto os judeus, quanto os cristãos andassem nele!

Vale ressaltar que toda a Palavra de Deus testifica sobre Jesus, o Cristo: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam" (Jo 5:39). Sendo dessa maneira, em última análise, o shabbat uma prefiguração do que viria a ser o propósito da salvação em Cristo, o descanso tão esperado pelo homem! Enquanto terra prometida para o povo hebreu era a esperança de repouso, para nós Cristo é a esperança de paz, a esperança da glória!

Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. (Mt 11:27-30)
Ora, do mesmo modo que Abraão foi forasteiro e peregrino na terra, aguardando pela a fé a terra da promessa (Hb 11:9-10,13), não somente a física, mas principalmente a celestial, nós, crentes, esperamos em Cristo, com plena certeza da salvação pela graça, a verdadeira cidade de Jerusalém que vem dos céus, o nosso real descanso:

E VI um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida. Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. (Ap 21:1-7)
Sabemos que somos mais do que vencedores EM CRISTO JESUS (Rm 8:37). Porque todo aquele que Nele crê já venceu o mundo (1Jo 5:4-5). Por conseguinte, nada que fizermos neste mundo vai nos tirar esta bênção, pois somos filhos, NADA pode nos separar do Seu amor (Rm 8:39)! Isso não nos dá a liberdade de pecar, porque também estamos cientes que temos uma responsabilidade de manifestar o amor de Deus, praticando o juizo e a justiça pela Palavra. Deus é justo e disciplina aqueles a quem ama (Hb 12:6), seja nesta vida, seja no porvir.
Pelas palavras inspiradas de Paulo, somos chamados de cidadãos de uma pátria celestial (Ef 2:19; Gl 4:26) e embaixadores de Cristo (2 Co 5:20). Para ele somos tesouro, um vaso de misericórdia, por fora de barro, mas por dentro cheios da glória de Deus. Ora, um embaixador permanece em terra estranha enquanto é necessário para cumprir sua missão. O apóstolo Pedro conclui sua concepção de cristão individual e coletiva - raça eleita, sacerdócio real, nação santa e povo de propriedade exclusiva - com a Finalidade de "anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz" (1 Pe 2:9b ). Sendo membros do Corpo, predestinados antes da Criação, originados de uma natureza divina, transformados a imagem de Cristo, sendo ministros e despenseiros do Evangelho, sacerdotes e reis, nação separada para Ele, temos o privilégio de apresentar ao mundo o Seu amor, manifestando ao próximo a Sua gloria. Este é o papel fundamental de cada cristão, a missão de cada um de nós:
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém (Mt 28:19-20)

26/02/2008

O que nós somos em Cristo Jesus? (Parte 03)

Todo cristão enfrenta diariamente desafios terríveis, que, somente podem ser combatidos eficazmente, se houver a consciência do que realmente ele é em Cristo Jesus. O apóstolo Pedro apresenta em sua primeira epístola a verdadeira concepção do filho de Deus. Primeiro, é um indivíduo, membro de uma nova Raça Eleita e tendo uma função, em Cristo, de Sacerdócio Real. No âmbito coletivo, ele se insere em uma Nação Santa e no Povo de Propriedade Exclusiva de Deus.

Como Raça Eleita, o ser humano foi regenerado por Deus, recuperando a antiga natureza divina que fora perdida no Éden. Agora, uma nova criatura, transformada, à imagem e semelhança do Criador e escolhida, antes da fundação do mundo, para andar conforme a vontade de Deus e glorificar o Seu Nome. Mas o cristão não é somente uma geração predestinada pelo Eterno. Há um sentido em sua eleição. Toda nova criatura foi chamada para ser, mediante o Senhor Jesus Cristo, sacerdote e rei.

2. Nós somos Sacerdócio Real:

O substantivo "sacerdócio" (hierateuma), em 1Pedro 2:9, tem o sentido de "corpo de sacerdotes" e o adjetivo "real" (basileios) possui a conotação de "pertencentes a realeza", isto é, membros da nobreza, tais como príncipes ou reis. O significado dessa expressão não aponta para uma ordem especial de crentes, e sim, para toda a Igreja de Cristo. Não há um grupo especial de crentes, cuja função seja exercer o sacerdócio real, pois TODOS nós, em Cristo, somos sacerdotes e reis. E por qual razão o Corpo de Cristo tem essa função? Ora, porque, conforme profetizado pelo profeta Zacarias, Jesus, o messias e cabeça da Igreja, detém estes dois ofícios:

Assim disse o Senhor dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; ele brotará do seu lugar e edificará o templo do Senhor. Ele mesmo edificará o Templo do Senhore será revestido de glória; assentar-se-á no seu trono, e dominará, e será sacerdote no seu trono; e reinará perfeita união entre ambos os ofícios. (Zc 6:12-13)

Jesus Cristo é o sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110:4). Há uma tipificação deste como o Messias: o seu nome significa "rei de justiça"; não tem genealogia, enfim é eterno, permanecendo perpetuamente (Hb 7:1-3). Enquanto, os sacerdotes levitas descendem de Arão, um homem, natural, imperfeito, corrupto e temporário, uma ordem fundamentada na Lei de Moisés; o sacerdócio de Melquisedeque é celestial, perfeito, santo, sem princípio e nem fim, foi alicerçado pela graça de Deus cuja base é Pedra Angular, a qual é o Verbo de Deus. Os sacrifícios dos filhos de Levi eram transitórios, obrigatoriamente contínuos, e, assim, ineficazes para remover os pecados do povo (Hb 10:1-4); o sacrifício de Cristo é único e plenamente eficaz para purificação, justificação e santificação de todos aqueles crêem em Seu Nome! Por conseguinte, Cristo é o Mediador da Nova Aliança, uma substituição perfeita de uma lei obsoleta e incapaz de salvar a humanidade (Hb 9:11-15). Não obstante, além de seu papel sacerdotal, após cumprir o própósito da redenção, Cristo assentou-se à destra de Deus Pai (Ef 1:20-22), sendo concedido ao Filho, toda a autoridade para reinar sobre os Céus e a terra, sujeitando todas as coisas sob Seus pés. Logo, além de sacerdote, Cristo é o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores (Ap 19:16).


Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus, pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa (...) (Hb 10: 19-23)


Por intermédio do sacrifício de Jesus, todo crente tem livre acesso a Deus. Como membros do Corpo de Cristo, todo filho de Deus é sacerdote e rei, conforme se referiu o apóstolo João no livro de Apocalipse: "àquele que nos ama (Jesus), e pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constitui reino (ou reis) e sacerdotes para o seu Deus e Pai (...)" (Ap 1:5b - 6a). Ora, qual o papel do sacerdote e do rei?


O que é ser um sacerdote? Sacerdote é aquele que ministra diante de Deus, oferecendo algo sagrado ou sacro (do latim sacru), ou seja, sacrifícios, ofertas solenes consagradas à divindade. O próprio termo "sacerdote" é a junção da palavra latina "sacer" (sagrado) com o verbo grego "dot" (oferecer). O sacerdote é alguém que dedica a sua vida a Deus, é um homem separado para servir a Ele em Seus tabernáculos. Na velha Aliança, os sacerdotes levitas não tinha participação na divisão das terras pelas tribos de Israel, a sua herança era o próprio Deus (Nm 18:20)! Semelhantemente, a herança do justo é o Senhor, assim como declarou o salmista: "O SENHOR é a porção da minha herança e do meu cálice; tu sustentas a minha sorte" (Sl 16:5). No Novo Testamento, o crente oferece sua própria vida como sacrifício santo e vivo a Deus (Rm 12:1) e a seus irmãos espirituais (Fp 2:17).


Como se consagrava o sacerdote na antiga aliança? Em Êxodo, no capítulo 29, há uma descrição clara dos eventos que compunham essa consagração. Os sacerdotes levitas eram separados para este ofício mediante uma cerimônia que consistia no sacrifício de três animais: um novilho (touro jovem) e dois carneiros. O novilho era sacrificado diante de toda tenda da congregação de Israel e o seu sangue era derramado no altar. Suas entranhas e gordura eram queimadas lá e o restante da carne fora do arraial. Esta era a oferta pelo pecado dos sacerdotes. Em seguida, era sacrificado o primeiro carneiro; seu sangue derramado no altar, sua carne era partida, suas entranhas lavadas e, todo o animal era queimado (uma oferta de aroma agradável a Deus) sobre o altar, como holocausto ao Senhor. Por fim, o último animal (o outro carneiro) era imolado e o seu sangue posto na ponta da orelha direita, no polegar da mão direita e no polegar do pé direito de cada um dos sacerdotes a serem consagrados. O restante do sangue era derramado sobre o altar e aspergido sobre aqueles homens. A gordura, entranhas e parte da carne eram queimadas em oferta a Deus, como sacrifício pacífico. Contudo o restante de sua carne era porção dos sacerdotes para que servir-lhes de alimento.


Todavia, o que esse texto tem a ver com o cristão dos dias de hoje? A bíblia diz que a lei (escrituras) é "sombra dos bens vindouros" (Hb 10:1), ou seja, uma imagem simbólica do que haveria de acontecer na nova aliança planejada e executada por Deus. Em primeiro lugar, assim como o novilho era o animal mais caro para os israelenses daquela época, Deus sacrificou seu único filho a favor dos pecadores, um custo altíssimo para o criador. Ele foi sacrificado como oferta para remoção do pecado, na cruz do calvário, fora da cidade de Jerusalem, em um lugar chamado Gólgota, isto é, fora do arraial (Jo 19:17; Hb 13:12). Através de sua morte cumpriu a vontade de Deus, sendo o seu sacrifício agradável aos olhos do Pai. O Seu sangue foi aspergido nas vestes de todos os crentes, a comunhão do homem com Deus foi restaurada - o verdadeiro sacrifício que nos levou à paz:


Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestes [no sangue do Cordeiro] para que tenham direito à arvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas. (Ap 22:14)


Agora, como sacerdotes, os cristãos podem ouvir a Deus (sangue na orelha direita); fazer as obras que Ele preparou de antemão para que andássemos nelas (sangue no polegar da mão direita); e, principalmente, da mesma forma como era no princípio da criação, podemos agora caminhar em companhia de nosso Criador, Deus e Pai. Por sermos parte da família de Deus e co-herdeiros com Cristo, temos direito a participar da mesa e comer da árvore da vida, o Cordeiro de Deus, Jesus, o pão da vida!


Entretanto, como crentes, somos mais que sacerdotes, somos reis! Toda a Igreja é chamada a reinar com Cristo, sendo participantes de sua autoridade e da grande comissão (Mt 28:18-19; Mc 16:15-18; Ef 1:22-23). Há exemplos de grandes reis na bíblia, como Davi, Salomão e Josias. E existe uma semelhança entre eles, algo que é um mandamento de Deus para todos os soberanos da terra, esta é a vontade de Deus, revelada a Nabucodonosor, pela boca do profeta Daniel:


Portanto, ó rei, aceita o meu conselho, e põe fim aos teus pecados, praticando a justiça, e às tuas iniqüidades, usando de misericórdia com os pobres, pois, talvez se prolongue a tua tranqüilidade. (Dn 4:27)


De modo similar, a rainha de Sabá reconheceu em Salomão a sabedoria de Deus para governar praticando o juízo e a justiça aos pobres e necessidados (2 Cr 9:8). Também o profeta Jeremias, inspirado pelo Espírito de Deus, declarou a Jeoquim, filho de Josias, rei de Israel:


Porventura reinarás tu, porque te encerras em cedro? Acaso teu pai (Josias) não comeu e bebeu, e não praticou o juízo e a justiça? Por isso lhe sucedeu bem; porventura não é isto conhecer-me? diz o SENHOR. (Jr 22:15-16)


Conhecer a Deus é praticar juízo e justiça para com os pobres e necessitados. Este é um mandamento que faz parte da responsabilidade explícita do rei. Como reino de sacerdotes, a Igreja de Cristo tem a função de trazer a Sua vontade à realidade natural pelas ações que desempenha tanto como indivíduos quanto como grupo. Não é coincidência que este papel constitui a única oração que Jesus ensinou a seus discípulos, o pai nosso: "(...) Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu (...)" (Mt 6:10). O Corpo de Cristo deve manifestar o reino de Deus na terra, mediante a prática da justiça e juizo. É este o mandamento do amor declarado por João em sua primeira epístola:


Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus. Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. (...) Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece na morte. (..,) Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. (1 Jo 3:10-11, 16-18)

Há dois níveis de relacionamento em que o cristão experimenta: o vertical e o horizontal. O relacionamento vertical é a comunhão com Deus e pode ser resumida pelo primeiro mandamento que diz: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças" (Mc 12:30). Esta ordenança é o resumo dos primeiros cinco mandamentos da lei de Moisés a qual constitue o cerne do relacionamento com Deus. Este é a obrigação do sacerdote; sua total dedicação a Deus, oferecendo sua vida a Ele, entregando seu corpo como sacrifício de aroma agradável; sendo Ele a razão de sua alegria, força e esperança, estando Ele acima de toda vontade humana, ocupando o primeiro lugar das prioridades do crente: "Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Lc 12:31).


Por outro lado, há um relacionamento horizontal, estabelecido entre o cristão e seus semelhantes, pautada pelos mandamentos da segunda tábua da Lei (do sexto ao décimo) e simplificada pelo segundo mandamento, o qual é "amar o teu próximo como a ti mesmo" (Mc 12:31). Ora, para amar o próximo é essencial, a princípio, amar a si mesmo. Somente quando o filho de Deus aceita suas próprias fraquezas, reconhecendo no amor de Deus e em Sua generosa graça derramados, pela sua vida, a verdadeira força propulsora para praticar a justiça, torna-se capaz de amar as outras pessoas. E é esta a função principal do rei. Dedicar-se a todos aqueles que necessitem desse amor, como servo, manifestando o reino de Deus nesta terra, pois, como declarou o apóstolo Tiago, a fé sem obras (a prática desse amor) é morta, isto é, sem sentido algum (Tg 2:14-26).

Enfim, sacerdócio real não é uma função restrita a uma "elite de supercrentes". Todo o Corpo de Cristo tem como dever e privilégio ministrar a Deus, oferecendo-se a Ele como noiva ataviada e preparada para o casamento. Afinal, Cristo Jesus é a nossa porção e coroa da vida. E por sermos sacerdotes do Altíssimo e fiéis despenseiros de Seus mistérios (1Co 4:1-2; 1Pe 4:10) é necessária a manifestação desse amor ao próximo. Somente quando a Igreja assumir o papel de sal da terra(Mt 5:13) e luz do mundo (Lc 11:33-36), de sacerdote para Deus e rei diante do mundo, a vontade de Deus tornar-se-á verdadeiramente realidade!