26/02/2008

O que nós somos em Cristo Jesus? (Parte 03)

Todo cristão enfrenta diariamente desafios terríveis, que, somente podem ser combatidos eficazmente, se houver a consciência do que realmente ele é em Cristo Jesus. O apóstolo Pedro apresenta em sua primeira epístola a verdadeira concepção do filho de Deus. Primeiro, é um indivíduo, membro de uma nova Raça Eleita e tendo uma função, em Cristo, de Sacerdócio Real. No âmbito coletivo, ele se insere em uma Nação Santa e no Povo de Propriedade Exclusiva de Deus.

Como Raça Eleita, o ser humano foi regenerado por Deus, recuperando a antiga natureza divina que fora perdida no Éden. Agora, uma nova criatura, transformada, à imagem e semelhança do Criador e escolhida, antes da fundação do mundo, para andar conforme a vontade de Deus e glorificar o Seu Nome. Mas o cristão não é somente uma geração predestinada pelo Eterno. Há um sentido em sua eleição. Toda nova criatura foi chamada para ser, mediante o Senhor Jesus Cristo, sacerdote e rei.

2. Nós somos Sacerdócio Real:

O substantivo "sacerdócio" (hierateuma), em 1Pedro 2:9, tem o sentido de "corpo de sacerdotes" e o adjetivo "real" (basileios) possui a conotação de "pertencentes a realeza", isto é, membros da nobreza, tais como príncipes ou reis. O significado dessa expressão não aponta para uma ordem especial de crentes, e sim, para toda a Igreja de Cristo. Não há um grupo especial de crentes, cuja função seja exercer o sacerdócio real, pois TODOS nós, em Cristo, somos sacerdotes e reis. E por qual razão o Corpo de Cristo tem essa função? Ora, porque, conforme profetizado pelo profeta Zacarias, Jesus, o messias e cabeça da Igreja, detém estes dois ofícios:

Assim disse o Senhor dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; ele brotará do seu lugar e edificará o templo do Senhor. Ele mesmo edificará o Templo do Senhore será revestido de glória; assentar-se-á no seu trono, e dominará, e será sacerdote no seu trono; e reinará perfeita união entre ambos os ofícios. (Zc 6:12-13)

Jesus Cristo é o sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110:4). Há uma tipificação deste como o Messias: o seu nome significa "rei de justiça"; não tem genealogia, enfim é eterno, permanecendo perpetuamente (Hb 7:1-3). Enquanto, os sacerdotes levitas descendem de Arão, um homem, natural, imperfeito, corrupto e temporário, uma ordem fundamentada na Lei de Moisés; o sacerdócio de Melquisedeque é celestial, perfeito, santo, sem princípio e nem fim, foi alicerçado pela graça de Deus cuja base é Pedra Angular, a qual é o Verbo de Deus. Os sacrifícios dos filhos de Levi eram transitórios, obrigatoriamente contínuos, e, assim, ineficazes para remover os pecados do povo (Hb 10:1-4); o sacrifício de Cristo é único e plenamente eficaz para purificação, justificação e santificação de todos aqueles crêem em Seu Nome! Por conseguinte, Cristo é o Mediador da Nova Aliança, uma substituição perfeita de uma lei obsoleta e incapaz de salvar a humanidade (Hb 9:11-15). Não obstante, além de seu papel sacerdotal, após cumprir o própósito da redenção, Cristo assentou-se à destra de Deus Pai (Ef 1:20-22), sendo concedido ao Filho, toda a autoridade para reinar sobre os Céus e a terra, sujeitando todas as coisas sob Seus pés. Logo, além de sacerdote, Cristo é o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores (Ap 19:16).


Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus, pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos inabalável a confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez a promessa (...) (Hb 10: 19-23)


Por intermédio do sacrifício de Jesus, todo crente tem livre acesso a Deus. Como membros do Corpo de Cristo, todo filho de Deus é sacerdote e rei, conforme se referiu o apóstolo João no livro de Apocalipse: "àquele que nos ama (Jesus), e pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, e nos constitui reino (ou reis) e sacerdotes para o seu Deus e Pai (...)" (Ap 1:5b - 6a). Ora, qual o papel do sacerdote e do rei?


O que é ser um sacerdote? Sacerdote é aquele que ministra diante de Deus, oferecendo algo sagrado ou sacro (do latim sacru), ou seja, sacrifícios, ofertas solenes consagradas à divindade. O próprio termo "sacerdote" é a junção da palavra latina "sacer" (sagrado) com o verbo grego "dot" (oferecer). O sacerdote é alguém que dedica a sua vida a Deus, é um homem separado para servir a Ele em Seus tabernáculos. Na velha Aliança, os sacerdotes levitas não tinha participação na divisão das terras pelas tribos de Israel, a sua herança era o próprio Deus (Nm 18:20)! Semelhantemente, a herança do justo é o Senhor, assim como declarou o salmista: "O SENHOR é a porção da minha herança e do meu cálice; tu sustentas a minha sorte" (Sl 16:5). No Novo Testamento, o crente oferece sua própria vida como sacrifício santo e vivo a Deus (Rm 12:1) e a seus irmãos espirituais (Fp 2:17).


Como se consagrava o sacerdote na antiga aliança? Em Êxodo, no capítulo 29, há uma descrição clara dos eventos que compunham essa consagração. Os sacerdotes levitas eram separados para este ofício mediante uma cerimônia que consistia no sacrifício de três animais: um novilho (touro jovem) e dois carneiros. O novilho era sacrificado diante de toda tenda da congregação de Israel e o seu sangue era derramado no altar. Suas entranhas e gordura eram queimadas lá e o restante da carne fora do arraial. Esta era a oferta pelo pecado dos sacerdotes. Em seguida, era sacrificado o primeiro carneiro; seu sangue derramado no altar, sua carne era partida, suas entranhas lavadas e, todo o animal era queimado (uma oferta de aroma agradável a Deus) sobre o altar, como holocausto ao Senhor. Por fim, o último animal (o outro carneiro) era imolado e o seu sangue posto na ponta da orelha direita, no polegar da mão direita e no polegar do pé direito de cada um dos sacerdotes a serem consagrados. O restante do sangue era derramado sobre o altar e aspergido sobre aqueles homens. A gordura, entranhas e parte da carne eram queimadas em oferta a Deus, como sacrifício pacífico. Contudo o restante de sua carne era porção dos sacerdotes para que servir-lhes de alimento.


Todavia, o que esse texto tem a ver com o cristão dos dias de hoje? A bíblia diz que a lei (escrituras) é "sombra dos bens vindouros" (Hb 10:1), ou seja, uma imagem simbólica do que haveria de acontecer na nova aliança planejada e executada por Deus. Em primeiro lugar, assim como o novilho era o animal mais caro para os israelenses daquela época, Deus sacrificou seu único filho a favor dos pecadores, um custo altíssimo para o criador. Ele foi sacrificado como oferta para remoção do pecado, na cruz do calvário, fora da cidade de Jerusalem, em um lugar chamado Gólgota, isto é, fora do arraial (Jo 19:17; Hb 13:12). Através de sua morte cumpriu a vontade de Deus, sendo o seu sacrifício agradável aos olhos do Pai. O Seu sangue foi aspergido nas vestes de todos os crentes, a comunhão do homem com Deus foi restaurada - o verdadeiro sacrifício que nos levou à paz:


Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestes [no sangue do Cordeiro] para que tenham direito à arvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas. (Ap 22:14)


Agora, como sacerdotes, os cristãos podem ouvir a Deus (sangue na orelha direita); fazer as obras que Ele preparou de antemão para que andássemos nelas (sangue no polegar da mão direita); e, principalmente, da mesma forma como era no princípio da criação, podemos agora caminhar em companhia de nosso Criador, Deus e Pai. Por sermos parte da família de Deus e co-herdeiros com Cristo, temos direito a participar da mesa e comer da árvore da vida, o Cordeiro de Deus, Jesus, o pão da vida!


Entretanto, como crentes, somos mais que sacerdotes, somos reis! Toda a Igreja é chamada a reinar com Cristo, sendo participantes de sua autoridade e da grande comissão (Mt 28:18-19; Mc 16:15-18; Ef 1:22-23). Há exemplos de grandes reis na bíblia, como Davi, Salomão e Josias. E existe uma semelhança entre eles, algo que é um mandamento de Deus para todos os soberanos da terra, esta é a vontade de Deus, revelada a Nabucodonosor, pela boca do profeta Daniel:


Portanto, ó rei, aceita o meu conselho, e põe fim aos teus pecados, praticando a justiça, e às tuas iniqüidades, usando de misericórdia com os pobres, pois, talvez se prolongue a tua tranqüilidade. (Dn 4:27)


De modo similar, a rainha de Sabá reconheceu em Salomão a sabedoria de Deus para governar praticando o juízo e a justiça aos pobres e necessidados (2 Cr 9:8). Também o profeta Jeremias, inspirado pelo Espírito de Deus, declarou a Jeoquim, filho de Josias, rei de Israel:


Porventura reinarás tu, porque te encerras em cedro? Acaso teu pai (Josias) não comeu e bebeu, e não praticou o juízo e a justiça? Por isso lhe sucedeu bem; porventura não é isto conhecer-me? diz o SENHOR. (Jr 22:15-16)


Conhecer a Deus é praticar juízo e justiça para com os pobres e necessitados. Este é um mandamento que faz parte da responsabilidade explícita do rei. Como reino de sacerdotes, a Igreja de Cristo tem a função de trazer a Sua vontade à realidade natural pelas ações que desempenha tanto como indivíduos quanto como grupo. Não é coincidência que este papel constitui a única oração que Jesus ensinou a seus discípulos, o pai nosso: "(...) Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu (...)" (Mt 6:10). O Corpo de Cristo deve manifestar o reino de Deus na terra, mediante a prática da justiça e juizo. É este o mandamento do amor declarado por João em sua primeira epístola:


Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do diabo. Qualquer que não pratica a justiça, e não ama a seu irmão, não é de Deus. Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. (...) Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama a seu irmão permanece na morte. (..,) Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade. (1 Jo 3:10-11, 16-18)

Há dois níveis de relacionamento em que o cristão experimenta: o vertical e o horizontal. O relacionamento vertical é a comunhão com Deus e pode ser resumida pelo primeiro mandamento que diz: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças" (Mc 12:30). Esta ordenança é o resumo dos primeiros cinco mandamentos da lei de Moisés a qual constitue o cerne do relacionamento com Deus. Este é a obrigação do sacerdote; sua total dedicação a Deus, oferecendo sua vida a Ele, entregando seu corpo como sacrifício de aroma agradável; sendo Ele a razão de sua alegria, força e esperança, estando Ele acima de toda vontade humana, ocupando o primeiro lugar das prioridades do crente: "Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Lc 12:31).


Por outro lado, há um relacionamento horizontal, estabelecido entre o cristão e seus semelhantes, pautada pelos mandamentos da segunda tábua da Lei (do sexto ao décimo) e simplificada pelo segundo mandamento, o qual é "amar o teu próximo como a ti mesmo" (Mc 12:31). Ora, para amar o próximo é essencial, a princípio, amar a si mesmo. Somente quando o filho de Deus aceita suas próprias fraquezas, reconhecendo no amor de Deus e em Sua generosa graça derramados, pela sua vida, a verdadeira força propulsora para praticar a justiça, torna-se capaz de amar as outras pessoas. E é esta a função principal do rei. Dedicar-se a todos aqueles que necessitem desse amor, como servo, manifestando o reino de Deus nesta terra, pois, como declarou o apóstolo Tiago, a fé sem obras (a prática desse amor) é morta, isto é, sem sentido algum (Tg 2:14-26).

Enfim, sacerdócio real não é uma função restrita a uma "elite de supercrentes". Todo o Corpo de Cristo tem como dever e privilégio ministrar a Deus, oferecendo-se a Ele como noiva ataviada e preparada para o casamento. Afinal, Cristo Jesus é a nossa porção e coroa da vida. E por sermos sacerdotes do Altíssimo e fiéis despenseiros de Seus mistérios (1Co 4:1-2; 1Pe 4:10) é necessária a manifestação desse amor ao próximo. Somente quando a Igreja assumir o papel de sal da terra(Mt 5:13) e luz do mundo (Lc 11:33-36), de sacerdote para Deus e rei diante do mundo, a vontade de Deus tornar-se-á verdadeiramente realidade!

23/02/2008

O que nós somos em Cristo Jesus? (Parte 02)

O auto conhecimento é essencial para o homem alcançar o sucesso em todos os seus objetivos. Na vida cristã, não é diferente: para vencermos os obstáculos, é vital conhecermos o que nós somos tanto como indivíduos (membros no Corpo), quanto como coletividade (igreja) em Cristo Jesus. O apóstolo Pedro relaciona quatro conceitos que representam de forma integral a concepção do homem cristão: Raça Eleita, Sacerdócio Real, Nação Santa e Povo de Propriedade Exclusiva de Deus.
1. Nós somos Raça Eleita:

Raça (do grego "genos") possui o sentido de "geração", "linhagem", "ascendência", isto é, compreende a sucessão de descendentes (gerações) a partir de um único antepassado que deu origem àqueles indivíduos. Cabe comentar que, o termo português "gene" (que se originou desta mesma palavra), pode ser definido como sendo a "porção de um cromossoma, considerada como a unidade hereditária ou genética, visto ser responsável pela transmissão das características hereditárias de uma geração para a seguinte" (fonte: dicionário online Priberam), ou seja, gene está relacionado ao código genético ou DNA. A ciência afirma que este código contém toda a informação necessária para a formação e funcionamento de um organismo vivo, ou de maneira simples, a "linguagem" da vida. Logo, neste contexto, pode-se inferir um significado para "raça" como o conjunto de indivíduos que compartilham o mesmo "código da vida" (DNA) - possuindo natureza semelhante - originados de uma mesma fonte (um único ser).

Trazendo este conceito, para o contexto da Palavra, está escrito que: "a todos quantos o receberam [o Verbo de Deus, Cristo Jesus], aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus" (Jo 1:12-13). Ora, todos os cristãos, no momento em que creram em Jesus, receberam de Deus a Sua Vida, o Seu "código genético", de modo que, a partir daquele momento, se tornaram Filhos de Deus, co-herdeiros de Cristo (Rm 8:17; Ef 3:6; Tt 3:7), compartilhando a mesma natureza divina (2 Pe 1:4). É este o novo nascimento revelado por Jesus a Nicodemos:

"Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo." (Jo 3:5-7)

Antes de se entender o que significa esta nova natureza concedida ao cristão, todavia, cabe compreender o porquê da necessidade do novo nascimento. Em Romanos, no capítulo 3, Paulo descreve a terrível situação que se encontra a humanidade:

"como está escrito: Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios; a sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Nos seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante dos seus olhos. (...) Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (vs 10-18, 23)

Sabemos que o propósito de Deus para o homem não era este. Quando Ele criou a humanidade, por meio de Adão, passou para ele Sua Imagem e Sua Semelhança (Gn 1:26a), melhor dizendo, a sua natureza e caráter. Ele comunicou ao homem seus atributos morais (santidade, justiça, bondade, verdade, etc), além de sua espiritualidade (comunhão com Deus)e liberdade (livre arbítrio), enfim, toda a Sua Piedade. Entretanto, quando o homem caiu - dando ouvidos às palavras da serpente e se rebelando contra Deus - algo horrível aconteceu. Ele perdeu a comunhão com seu Criador, tornando-se, assim, Impiedade. Ele assumiu um novo caráter, a natureza oposta de Deus, a de Satanás, a serpente que o enganou. Agora a humanidade era "pó da terra", estava morta espiritualmente, separada do Deus Eterno, condenada à perdição...

O que Deus poderia fazer, então?

O Eterno, em toda Sua onisciência e onipotência, sabia que, para salvar o homem, precisava agir na legalidade; sendo assim, da mesma maneira como o seu adversário agiu, através da ação de um homem, somente através de um outro homem, Ele poderia redimir a humanidade. Para tanto, Deus se fez carne, e veio como homem, Jesus Cristo, o segundo Adão, a fim de se entregar, em sacrifício vivo e santo, a favor de todos aqueles que cressem Nele: "Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida" (Jo 5:24).

Portanto, mediante a obra da cruz, Deus cumpriu seu plano de redenção no homem. Ele fez uma nova aliança, arrancando o coração de pedra da criatura corrompida, e, em seu lugar, colocou um coração de Filho de Deus, de carne (Jr 31:33; Ez 36:26-27); introduziu no seu interior um novo espírito, a Lei de Deus, o Torá, a verdadeira Vida Eterna, o "DNA" de Deus! A partir dessa transformação radical do homem interior, o cristão é uma "raça" diversa, uma nova "geração", não mais parecida à serpente, porém da mesma natureza de seu Criador: "pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2 Co 5:17).

Contudo, não somos simplesmente uma nova raça, mas uma geração ELEITA!

O adjetivo "eleita" (do grego eklektos), nesse contexto, significa "escolhido", "juntado", isto é "Deus tomou para si". E que vem a ser uma "eleição"? Por exemplo, em uma eleição presidencial, pressupõe que haja pelo menos dois candidatos disputando o cargo de Presidente da República, a fim de que o povo possa escolher um deles para exercê-lo. Ora, se houver somente um candidado, na realidade, está deturpado o sentido da seleção e do direito à escolha de cada eleitor, enfim, não existe, efetivamente, eleição. Assim, como o eleitor somente pode escolher diante de um rol de candidatos, também Deus só pode "eleger" alguém se puder selecionar dentre um grupo de pessoas àqueles que Ele desejar para si. Pense bem neste privilégio: dentre todas as criaturas do universo, todo aquele que é nascido de novo foi, de antemão, escolhido pelo Deus Criador para se tornar uma nova criatura, Seu filho!

"Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou." (Rm 8:28-29)

O que vem a ser predestinação? Na teologia histórica protestante, se refere à decisão de Deus tomada na eternidade, em relação ao destino final de cada criatura gerada por Ele, antes do mundo existir. Os critérios adotados por Deus são um mistério. Entretanto, todo cristão tem a convicção em seu interior de sua escolha, corroborada pelo Espirito Santo, o testemunho da promessa da salvação: "Quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho; quem a Deus não crê, mentiroso o fez; porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho" (1Jo 5:10-11).

Em vista disso, como cristãos, temos a consciência, por intermédio do Espírito Santo, que fomos escolhidos por Deus "antes dos tempos eternos" (2 Tm 1:9), em Cristo, única e exclusivamente pela Sua graça, para santificação e adoção (Ef 1:4-5); para as boa obras (Ef 2:10) andando conforme Cristo andou, percorrendo o caminho que nos foi proposto (Hb 12:1-2) na firme esperança da promessa da glória eterna (Rm 9:23). Este é o real sentido do termo "raça eleita"!

17/02/2008

O que nós somos em Cristo Jesus? (Parte 01)

O homem está em constante busca por conhecimento, principalmente, quando diz respeito a si mesmo (seu interior). A busca pela ciência - no sentido lato da palavra - é algo inerente ao comportamento humano. Pensadores como Sócrates e Sun Tzu já afirmaram que o auto conhecimento é essencial para se alcançar a felicidade - ou o sucesso - seja na vida pessoal, seja em um campo de batalha: “Aquele que conhece o inimigo e a si mesmo, lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas" (Sun Tzu, A Arte da Guerra). Esta é a "guerra" na qual a humanidade está engajada: conquistar a vitória nas "batalhas" da vida. Logo, para se tornar um vencedor, em primeiro lugar, é vital o conhecer a si próprio!

De modo semelhante, nós, cristãos, também estamos em guerra: "Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais." (Ef 6:12). Ora, este embate não é natural, mas espiritual. Todo cristão está travando uma batalha constante contra o mundo exterior (principados, potestades, espíritos malignos deste mundo tenebroso). E para piorar essa situação, além desse inimigo externo, o filho de Deus enfrenta um combate contra um adversário terrível: a sua própria natureza carnal, o caráter caído de Adão. Como afirmou o apóstolo Paulo, em sua carta aos Gálatas (5:17): "a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis".

Em toda batalha, o soldado precisa conhecer a si mesmo, a fim de tirar o máximo proveito de suas habilidades na luta, alcançando assim a tão desejada vitória. Como nossa guerra é espiritual, pressupõe que este conhecimento seja espiritual. Sabemos que Deus é espírito (Jo 4:24) e que as coisas divinas somente podem ser discernidas pelo nosso homem espiritual (2 Co 2:14-15 ). Destarte, se quisermos vencer esta luta exterior e interior precisamos conhecer quem é este homem que habita em nosso interior, isto é, o que nós somos em Cristo Jesus?

"Mas vós sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo de propriedade exclusiva de Deus, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado." (2 Pe 2:9-10)

Os cristãos são chamados por Pedro de Raça Eleita, Sacerdócio Real, Nação Santa e Povo de Propriedade Exclusiva de Deus. É interessante que o apóstolo começa caracterizando o crente como indivíduo, primeiro pela sua origem como criatura individual (raça eleita) e pela sua função no universo (sacerdote e rei). A partir desses dois aspectos, ele nos apresenta os outros restantes que são relacionados à coletividade, ao grupo como um todo: Nação Santa e Povo de propriedade exclusiva de Deus. Cabe ressaltar que, de acordo com que os estudiosos da Bíblia afirmam, o número quatro representa uma idéia de totalidade, de plenitude (os "quatro cantos da terra", os "quatro evangelhos"). O que isto quer dizer? Significa que neste pequeno versículo está todo o sentido do homem cristão, não somente no âmbito do indivíduo mas como "ser" coletivo: a Igreja (o Corpo) de Cristo!

Neste contexto, portanto, é preciso conhecer a nossa origem... De onde viemos?... De quem nós fomos gerados? É preciso compreender qual a função que nos foi outorgada: para qual fim existimos neste universo? E por fim, o que somos como coletividade, como Igreja, e qual o papel que desempenhamos neste Corpo! Este é o primeiro passo para que o cristão possa estar preparado para lutar, sabendo qual é o genuíno sentido que ele representa como individuo e como grupo. Somente mediante este conhecimento será possível um avanço reiterante e profundo no território do inimigo para se conquistar plenamente a vitória!

11/02/2008

O verdadeiro significado da Vida Eterna

Desde os primórdios da humanidade, o homem sempre buscou a vida eterna. A idéia da imortalidade é algo que permeia o imaginário coletivo e está presente, se não for em todas as culturas, pelo menos na maioria delas. Não somente a imortalidade do corpo, mas principalmente a da alma, este é o sonho de todo ser humano: viver eternamente! Há diversos exemplos na mitologia e nas lendas antigas, na literatura e no cinema. Seja através da ciência ou da religião, o homem sempre almejou encontrar tão precioso bem...

Contudo, o verdadeiro sentido de Vida Eterna vai muito além do que as artes, a razão ou a fé tentam alcançar:

Jo 17:3 - E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.

Mas o que realmente significa a palavra CONHECER?

Ora, consultando um dicionário, se percebe que seu sentido vai além do estrito "ter entendimento, compreendensão ou sabedoria", significando também "relacionar-se" ou "experimentar profundamente". De modo geral, podemos adotar "saber" como sinônimo de "conhecer". Curiosamente, percebe-se que a origem latina da palavra "saber" é "sapare" (que significa "ter gosto") a mesma da palavra "sabor"! Para sentir o paladar de algo, obviamente, é preciso experimentar com a boca. Uma refeição pode ser deliciosamente apresentada aos olhos, mas apenas se poderá compreender a exata dimensão do prazer de comer aquele alimento se ela for analisada pelo paladar, ingerida e digerida... Concluindo, semelhante à digestão, a partir do instante em que o conhecimento é "degustado" e internalizado pelo corpo, torna-se parte dos "ossos", "músculos" e "sangue", transformando-se na própria essência do ser.

Foi isso que Jesus disse em Jo 4:34: "A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra". O Filho de Deus era tão ligado ao Pai que era um só com Ele... E não somente Ele agia dessa forma como nos instruiu a buscarmos essa comunhão, mediante uma experiência pessoal, tornando-nos um só com Ele: "Porque a minha carne é a verdadeira comida, e o meu sangue é a verdadeira bebida" (João 6:55). Este é o convite feito a todos que tem fome e sede de Deus, a todos que crêem em Seu Nome.

O que é Conhecer a Deus e a Seu Filho Jesus?

Há uma incrível semelhança entre Jo 17:3 e Jr 9:23-24:
Assim diz o SENHOR: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas, Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o SENHOR e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR.

1) Conhecer a Deus é reconhecer que Ele é a unica e verdadeira fonte de Tudo: todos os nossos próprios recursos são reduzidos a NADA perto de Sua Divina Sabedoria, Força e Riqueza;

2) Saber (experimentar) o "EU SOU", O SENHOR (Jesus é o verdadeiro EU SOU como está escrito em João 8:58), como também da maravilhosa obra de redenção através da Sua MISERICORDIA(amor leal, pois amou o mundo de tal maneira a ponto de entregar Seu único Filho); Seu JUIZO(para morrer em nosso lugar na cruz) e Sua JUSTIÇA (por intermédio do sangue derramado nos tornou justos diante de Deus).

A vida Eterna é experimentar HOJE essa nova comunhão com Deus e ter TODO esse conhecimento, toda essa vida em nós

O profeta Jeremias compreendeu o verdadeiro sentido da Vida Eterna:
Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei. (Jr 31:33-34)

Qual a diferença entre “imprimir na mente” e “inscrever no coração”? Quando se imprime, por exemplo, passos na areia da praia estão sendo marcadas pegadas temporárias - facilmente serão apagadas pela ação do vento, do mar ou do próprio homem. Entretanto, quando se inscreve, se entalha (esculpe) na pedra palavras, estas permanecerão intactas por séculos, permitindo que sejam lidas pelas futuras gerações. Melhor dizendo, imprimir é algo superficial e efêmero enquanto inscrever é profundo e eterno. Enquanto aquele pode ser esquecido, este não pode ser apagado por vontade humana. nem pode ser eliminado pelo caráter do velho Adão, pela natureza pecaminosa da carne!

Sabemos que, na velha Aliança, a lei de Moisés foi dada ao povo de Israel como conjunto de princípios para se andar na vontade de Deus. Como Paulo disse em sua carta aos Romanos (como nos versículos de Rm 3:20, 5:13 e 7:7), a Lei de Moisés veio para revelar os desejos carnais ao homem, pois, ao tentar “conter” a natureza pecaminosa do homem, simplesmente avultou sobremaneira o pecado. Comprovou ser, dessa sorte, uma tarefa impossível ao homem cumprir toda Lei. Afinal, somente uma ação radical, por intermédio da misericórdia e graça de Deus, poderia erradicar o pecado do interior do homem...

Assim, a lei de Deus pode ser comparada a uma placa “Pare” em um cruzamento. Da mesma forma que esta placa sinaliza uma advertência a todos aqueles que estiverem seguindo por aquela via, todos os mandamentos foram instituídos por Deus a fim de proteger e instruir ao homem na forma pela qual deveria se comportar. Da mesma maneira que a placa de sinalização não impede que a infração ocorra, a Lei de Deus somente revela no próprio homem a sua irreversível natureza de pecador!

Na Nova Aliança, conhecer a Deus é ter a Sua lei inscrita em nosso coração. Esta lei é o Espírito Santo de Deus vivendo em nós - a própria vida do Deus vivo - o qual é o selo de nosso coração (Ef 1:3). Ora, nós conhecemos a Deus porque temos o Consolador em nosso ventre: a Mente de Cristo (2Co 2:16). Os elementos que compõem qualquer mente são intelecto (o centro dos pensamentos, do conhecimento e memória), vontade e emoções. É a “alma” de Deus, toda a Sua essência, a plenitude de Seu caráter, Sua Sabedoria habitando em nós! Assim se caracteriza o novo nascimento concedido a todo aquele que crê em Jesus Cristo e confessa o Seu NOME! AGORA o homem se torna uma NOVA CRIATURA: Filho de Deus!

Cabe ressaltar que, apesar de ser uma nova criatura no interior, continuamos necessitando, no exterior (em nosso intelecto, vontade e emoções) de uma renovação. Sendo assim, a Vida de Deus que habita em nosso homem interior precisa transbordar e preencher toda nossa mente:

E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus. (Rm 12:2)

É de vital importância a busca da transformação de nosso caráter, a qual não é obra da vontade humana, mas do Espírito Santo – a Vida do Deus Eterno - existente em nós:

E peço a Deus do nosso Senhor Jesus Cristo, Pai glorioso, que dê a vocês o Seu Espírito que os tornará sábios e revelará Deus a vocês, para que assim vocês o conheçam como devem conhecer.

Peço que Deus abra a mente de vocês para que vejam a luz dele e conheçam a esperança para a qual Ele os chamou. E também para que saibam como são maravilhosas as bênçãos que prometeu ao Seu povo e como é grande o Seu poder que age em nós, os que cremos Nele.
(BNLH, Ef 1: 17-18a)


Logo, a Vida Eterna é mais do que viver eternamente, com Deus, no céu. Vai MUITO ALÉM disso! É possuir a Sua essencia implantada no coração, é ter um relacionamento íntimo com o Pai, conhecendo Sua vontade, Seus propósitos, Seu caráter. É ter todo o Seu conhecimento habitando no interior de si mesmo, transformando-se, gradualmente, à imagem e semelhança de Cristo e restaurando, de glória em glória, a antiga natureza que fora perdida no Éden.